Já na condição de ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-DEM) enfrentará nos próximos dias investigações em duas frentes. A CPI da Corrupção da Câmara Legislativa do Distrito Federal começa a ouvir os depoimentos dos envolvidos no “mensalão do DEM”, esquema de pagamento de propina comandado por Arruda no governo do Distrito Federal. Já o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu hoje pressa na conclusão das investigações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que apura o esquema de propinas no governo do DF e no Legislativo local.
A CPI da Corrupção da Câmara DF já definiu a lista dos depoimentos dos envolvidos no “mensalão do DEM”. O primeiro a ser ouvido será Gilberto Lucena, dono da empresa de informática Linknet, apontada como fonte de abastecimento financeiro do esquema. Em vídeo, Lucena aparece pagando propina a Durval Barbosa, que era secretário de Relações Institucionais e um dos operadores do esquema, e depois veio a ser o principal delator dos envolvidos. Na gravação, o empresário entrega maços de dinheiro a Barbosa e reclama do alto valor cobrado.
Lucena, porém, ainda não foi notificado. Enviados da Câmara Legislativa tentaram localizá-lo nos endereços residenciais e comerciais em Brasília e em Goiânia, mas não conseguiram encontrá-lo. A assessoria de imprensa da presidente da CPI, Eliana Pedrosa (DEM), informa que um correspondência enviada pelo sistema Sedex foi endereçado a Lucena. Se ele não comparecer ao depoimento, a comissão tem o poder de usar força policial para levá-lo à oitiva.
Denúncia
Em outra frente, Roberto Gurgel pretende acelerar as investigações da Operação Caixa de Pandora. Caberá ao procurador analisar as investigações feitas até agora e oferecer ou não denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em ofício encaminhado ao STJ, Gurgel pede que, em até 10 dias, sejam ouvidas todas as pessoas que aparecem nos vídeos gravados por Durval Barbosa, incluindo o próprio ex-secretário, o ex-governador José Roberto Arruda e ex-vice-governador Paulo Octávio.
“É preciso dar mais celeridade à investigação que se processa nestes autos, para evitar o desaparecimento de vestígios dos crimes, dar concretude à persecução penal dos responsáveis por infrações, evitando a prescrição; e para exonerar aqueles que não têm participação em empreitada criminosa investigada”, afirma o procurador no ofício. No mesmo documento, ele também dá 10 dias de prazo para conclusão das análises dos dados obtidos com a quebra de sigilo dos envolvidos, do material coletado nas buscas e apreensões e ainda dos contratos firmados pelo governo nos últimos anos.
Prisão
Roberto Gurgel ainda entregará, nos próximos dias, pareceres pedidos pelo relator das investigações, ministro Fernando Gonçalves, do STJ, sobre os pedidos da defesa para a revogação do pedido de prisão de José Roberto Arruda, uma vez que ele não é mais governador. Arruda está preso há 40 dias por tentativa de suborno a uma das testemunhas do esquema.
Somente depois de receber estes documentos, Fernando Gonçalves decidirá se mantém Arruda preso na Polícia Federal, se permite a transferência para casa, ou se o colocará em liberdade. Esta manhã, Gurgel adiantou que sua avaliação é a de que o poder de influência de Arruda não acaba mesmo estando ele fora do cargo.
“Quem já tentou da forma que tentou corromper testemunha, é capaz de qualquer coisa”, disse. Sobre a situação de saúde do ex-governador, que teve uma obstrução na artéria coronária detectada, Gurgel disse que, até o momento, não enxergou “nada que justifique qualquer tipo de providência de transferência do local em que se encontra preso”.