O Campo Majoritário – grupo que controla as direções nacional e estadual do PT – acusou ontem as correntes da esquerda do partido, de terem agido com autoritarismo ao vetarem a participação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, no debate entre os candidatos à presidência nacional da sigla, realizado anteontem em Curitiba.
O ministro Paulo Bernardo pretendia substituir no debate o atual presidente do partido, Tarso Genro, que no domingo ainda não havia renunciado à candidatura. Genro, que ontem anunciou sua desistência, não veio a Curitiba. Os demais candidatos, Plínio de Arruda Sampaio, Raul Pont, Walter Pomar, Markus Sokol e Maria do Rosário, argumentaram que havia um acordo anterior firmado entre as várias alas impedindo que os candidatos a presidente fossem representados por outros integrantes das chapas nos debates. Bernardo, o presidente estadual do PT, André Vargas, e outros integrantes da corrente, retiraram-se do local onde se realizava o debate, no auditório de um hotel no Centro de Curitiba.
Em nota distribuída ontem, o grupo alega que Bernardo havia sido indicado por Genro para expressar as posições do Campo Majoritário e que a substituição estava amparada pela Comissão Organizadora das Eleições. "Se a esquerda fosse excluída de um debate, eles botariam fogo no corpo. Nós apenas resolvemos sair", disse ontem Vargas, afirmando que a interdição de Bernardo impediu que o grupo se defendesse das inúmeras acusações que vem sofrendo internamente, já que são todos integrantes do Campo Majoritário os dirigentes denunciados por irregularidades no financiamento de campanhas eleitorais e por envolvimento na suposta compra de apoio ao governo no Congresso Nacional.
Regra é regra
"Eles têm 60% da executiva nacional. Foram eles que definiram as regras", afirmou Dr. Rosinha, candidato à presidência estadual do partido, rebatendo as críticas. "Tentaram aplicar um golpe, e depois fizeram-se de vítimas", disse o deputado petista, lembrando que, há duas semanas, num debate realizado no interior do Paraná, integrantes do Campo Majoritário foram os primeiros a usar o dispositivo para impedir a substituição do candidato de uma corrente minoritária, que não estava presente.
A insistência do Campo Majoritário em substituir o seu representante foi criticada por Plínio de Arruda Sampaio, candidato independente. "O que aconteceu é uma demonstração da prepotência de uma oligarquia que foi criada dentro do PT. O Ministro chega aqui e pensa que esta acima da lei", comentou.
O líder da bancada estadual do PT, deputado Tadeu Veneri, que também concorre à presidência estadual afirmou que o debate era entre candidatos a presidente e que não cabia a indicação de substituto. "Mas o Campo Majoritário está habituado a agir de forma arrogante e impor suas regras", atacou.
O secretário estadual do Trabalho, Padre Roque, que apóia o ex-prefeito de Maringá, João Ivo Callefi para a presidência estadual, disse que não houve cerceamento ao campo majoritário. " Se o Tarso Genro tivesse comparecido na reunião no Paraná, teria sido recebido com festa e certamente ganharia votos. O que aconteceu em Curitiba foi apenas o cumprimento do regimento imposto pelo segmento majoritário e nada mais", comentou.