Menos de um mês após a morte de sua grande referência em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, as palavras de ordem no PMDB paulista são união, reformulação e adaptação à nova realidade política, com foco na busca de uma identidade para a sigla. Uma ala do partido que, sob a batuta de Quércia, apoiou os tucanos nas sucessões estadual e presidencial já admite a influência do vice-presidente da República, Michel Temer, no diretório estadual e cobra a fatura pelo apoio na eleição de Geraldo Alckmin no Estado, com a reivindicação de participação na administração estadual paulista. Entretanto, alguns nomes de peso da sigla, como o do prefeito de Barueri, Rubens Furlan, defendem um novo caminho para a legenda.
“A nossa realidade hoje é que a Dilma (Rousseff) é a presidente, o Michel é o vice e o Alckmin governa São Paulo”, afirma Marcelo Barbieri, prefeito de Araraquara e um dos caciques do PMDB paulista. Com esse argumento, ele espera conter qualquer tentativa de levante interno e provar que o partido continua sendo o ‘bom e velho PMDB’: de olho em suas ramificações na esfera federal e com um pé no governo estadual. O discurso também é um aviso aos que questionam o possível controle de Temer e do deputado estadual Baleia Rossi, filho do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, na direção regional do partido.
Líder da ala que contesta o controle de Temer, o prefeito Furlan, que já foi vereador, deputado estadual e federal e está atualmente em seu quarto mandato na administração de Barueri, município com o maior Produto Interno Bruto (PIB) entre os comandados pela sigla em São Paulo, ameaça deixar a legenda caso não haja uma discussão entre os correligionários para definir os novos rumos do partido. O prefeito é também pai da deputada federal Bruna Furlan (PSDB), uma das mais votadas no Estado, e foi um dos articuladores mais ativos do PMDB na campanha do então candidato tucano José Serra à Presidência da República.
Presidência do diretório
O PMDB de São Paulo tem até fevereiro para escolher o sucessor de Quércia na presidência do diretório e, embora possa fazer a eleição antes desse período, deve postergar a decisão, a fim de avaliar o cenário e acalmar os ânimos dos que querem refundar o partido, como o prefeito de Barueri. “O partido se enfraqueceu com a morte do Quércia. Ninguém vai preencher o espaço que ele deixou porque ele sempre foi referência no Estado”, disse Barbieri.
“É inegável que existe uma divisão”, afirma o presidente interino e deputado estadual Jorge Caruso, ao se referir aos blocos de Quércia e de Temer. O trabalho da cúpula agora é evitar que a morte de Quércia e as mudanças no partido provoquem uma debandada, uma vez que o quercista Rubens Furlan já ameaçou deixar a legenda caso o PMDB “caia em mãos erradas”. “A prioridade é a unidade em São Paulo”, defendeu Airton Sandoval, secretário-geral. “Temos que administrar o patrimônio do partido”.
Caruso, que esteve na ala de apoio à candidatura de Dilma Rousseff, tenta minimizar a possível interferência de Temer na ausência de Quércia. “Sempre houve uma influência do Michel, mas sempre respeitando o Quércia. É natural que ele (Temer) tenha participação no Estado”, afirmou. O deputado considera precipitada a ameaça de saída de alguns integrantes do partido e prega o consenso na escolha do sucessor de Quércia para que a legenda passe por uma reformulação pacífica e defina seu rumo nas eleições municipais de 2012.
Apesar dos discursos de unidade no partido, Marcelo Barbieri rechaça a candidatura de Baleia Rossi para a presidência do diretório. “O nome de Caruso não criaria conflito nesse momento porque ele transita nas duas alas. (Baleia Rossi) é um bom nome, mas não agora, isso provocaria uma disputa”, argumentou o prefeito de Araraquara. Já Baleia Rossi não esconde, nos bastidores, o interesse em se tornar o presidente do PMDB paulista e já articula sua candidatura desde o ano passado. “Os nomes ainda não foram colocados, o importante agora é pacificar o partido”, afirma o filho do ministro da Agricultura.
Após ser um dos negociadores para o PMDB no fracassado acordo por cargos no governo Geraldo Alckmin (PSDB), Baleia mostra o descontentamento com o governador. “A expectativa era que o PMDB paulista, que ajudou a elegê-lo, tivesse cargos e espaço no primeiro escalão. Agora, o partido segue na expectativa”, frisou. A mesma crítica é feita por Barbieri: “Já estamos no governo federal. É justo que também participemos em São Paulo porque ajudamos a eleger esse governo”, cobrou . Uma das prioridades dos peemedebistas, segundo Barbieri, é retomar o diálogo com Alckmin para definir como o PMDB pode ainda participar da administração estadual, já que o partido ficou fora do primeiro escalão. “Não temos que esconder que fazemos composição”, alfinetou Barbieri.