O que era antes uma possibilidade, agora passou a ser praticamente uma certeza: o ex-presidente Lula deve se tornar ministro. A denúncia do Ministério Público de São Paulo contra ele foi o gatilho para acabar com incertezas por parte do próprio Lula, que resistia a ideia, já que temia passar a imagem de que estava se refugiando no foro privilegiado para escapar dos processos contra ele.

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A avaliação no Planalto é que a denúncia “foi muito política”, principalmente por ocorrer a quatro dias dos protestos marcados para domingo. A ação do MP paulista pode ajudar na argumentação de que o petista é alvo de uma perseguição política, já que Lula nem ouvido foi e já existe um procedimento do Ministério Público Federal em Curitiba em curso sobre o mesmo caso, no âmbito da Operação Lava Jato.

No governo, é dado como certo que Lula vai dizer “sim”. Em princípio, ele não queria aceitar o convite para não passar a imagem de que, ao assumir um ministério, estaria assumindo sua culpa.

Caso vire ministro, Lula ganharia foro privilegiado e só poderia ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e não mais pela Justiça Estadual paulista ou pela Justiça Federal do Paraná. 

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Lula deve ocupar a Secretaria de Governo, hoje comandada por Ricardo Berzoini, que, nesse caso, seria transferido para outra pasta. O próprio Berzoini é entusiasta da ideia.

“Eu não preciso ser ministro para ajudar o governo”, afirmou Lula ontem, em café da manhã na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). De qualquer forma, para alguns ele prometeu “pensar” no assunto. A Lava Jato avança cada vez mais sobre Lula, o Planalto e o PT.

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“Qual time não gostaria de colocar o Pelé em campo?”, perguntou Berzoini, que procura convencer o ex-presidente a voltar atrás e aceitar o convite. “A bola sempre esteve com ele. Depende de ele querer”, afirmou.

Foro

Auxiliares de Dilma e parlamentares do PT e do PMDB estão convencidos de que Lula pode ser preso e, para escapar do que chamam de “caçada” do Ministério Público e do juiz Sérgio Moro, precisa ocupar uma cadeira na Esplanada. No comando de um ministério, o ex-presidente ganharia foro privilegiado e seria julgado pelo Supremo Tribunal Federal, e não por Moro, considerado implacável com investigados da Lava Jato.

Ao comentar na quarta-feira, 9, sua condução coercitiva para prestar depoimento à Polícia Federal, na sexta-feira, Lula pediu forte reação dos senadores às “arbitrariedades” cometidas pela Lava Jato. “Se eu quisesse, poderia incendiar o País, mas esse não é meu papel. Sou um homem da paz”, afirmou ele, de acordo com relatos de três participantes do café na casa de Renan.

À noite, Lula foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo no caso do tríplex do Guarujá (SP), que ele nega possuir. “Já disse um milhão de vezes que esse apartamento não é meu”, insistiu o petista.

O ex-presidente almoçou ontem com Dilma e com os ministros Berzoini e Jaques Wagner (Casa Civil), no Palácio da Alvorada. Voltou a falar da necessidade de uma guinada na política econômica, mas disse ser difícil fazer isso agora porque o governo está “muito frágil”.

A maior preocupação é com a ameaça de desembarque do PMDB. Após sair do almoço no Alvorada, na quarta-feira, Wagner foi conversar com o vice Michel Temer, que disse a ele que não deve haver anúncio de rompimento no sábado. Por enquanto.