Há 12 anos na administração do governo no Acre, o PT usa a tese de que contra os fatos positivos não há argumentos e, por isso, aposta na eleição de Tião Viana já no primeiro turno. Líder de uma coligação formada há 20 anos e que hoje reúne 14 partidos – entre eles o PV da ex-petista Marina Silva, PDT, PSB, PCdoB e PP -, o PT acreano conseguiu criar o ambiente político que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sonhava para a eleição da candidata Dilma Rousseff: o clima do “nós contra eles”. No Acre, é a Frente Popular de Viana contra a oposição do PMDB, DEM e PPS, liderada pelo tucano Tião Bocalom, dono de menos da metade das intenções de voto do adversário petista, de acordo com as pesquisas. “Aqui temos a coligação dos sonhos. A Frente Popular é um patrimônio”, define o ex-governador e candidato ao Senado, Jorge Viana.
O PT sonha em permanecer no Estado por, pelo menos, mais três mandatos. “Já temos uma história de construção aqui. Tem muita coisa para fazer e um time muito bom”, disse Jorge. Após a reconstrução das contas públicas no Acre e do enfoque nos programas sociais, o próximo passo, de acordo com o ex-governador, é criar a infraestrutura para o desenvolvimento econômico. “Agora queremos a industrialização, mas uma industrialização baseada na economia sustentável”, afirma.
Jorge gaba-se de, desde 1992, quando foi eleito prefeito de Rio Branco, não ter perdido uma eleição. Ele nega que a família Viana seja uma oligarquia no Estado. “Não há possibilidade de virar uma oligarquia. Não queremos ser oligarcas”, rebate. Segundo Jorge, sua candidatura ao Senado foi um pedido do presidente Lula, já que nos últimos anos ele vinha atuando na iniciativa privada. Já o atual governador, Binho Marques, decidiu não tentar a reeleição e pretende se dedicar à vida acadêmica, fazendo doutorado.
Para Jorge, a possibilidade de Tião Viana ganhar já no primeiro turno, em 3 de outubro – ele tem 58% das intenções de voto contra 25% do tucano, segundo a última pesquisa Ibope – não está relacionada ao fato de serem da mesma família, e sim porque Tião representa a continuidade do projeto. “O Tião tem luz própria.”
Modelo acreano
O êxito da administração petista no Estado é, nas palavras de Jorge, resultado de um modelo de gestão baseado na profissionalização dos cargos e planejamento estratégico. “O Acre tem a experiência mais longa e bem sucedida do PT no Brasil. E acho difícil exportar esse modelo”, analisa Jorge. O ex-governador, que é engenheiro florestal, reconhece que é difícil montar uma equipe formada só por técnicos. “Os nossos quadros são de técnicos políticos porque não dá para ser só técnico, assim como não dá para ter um perfil só político.”
É difícil encontrar nas ruas de Rio Branco, capital do Acre, insatisfeitos com a atual administração. Quando deixou o governo, há quatro anos, Jorge tinha um nível de aprovação superior aos 70%. Seu sucessor, Binho Marques, é aprovado por mais de 60% da população. “Tudo o que a senhora vê de bonito aqui foi o Jorge quem fez”, conta o taxista Rubens Roberto Pinheiro, de 56 anos, goiano que se mudou para o Acre há 15 anos. “Eles (petistas) vão ficar um bom tempo governando aqui. O PT não tem como perder aqui”, acredita. “O Jorge cortou muitos marajás, mudou tudo aqui. Eles fizeram a coisa bem feita”, disse o taxista Adenir Bastos, de 32 anos. “O povo aqui só não é muito chegado na Dilma. Então, o Serra seria uma opção”, conta.
O governo petista é reconhecido por combater o esquadrão da morte que dominava o Estado. O grupo era liderado pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal, que comandava um grupo de extermínio (conhecido por executar seus desafetos com motosserra), crime organizado e narcotráfico. Hildebrando ainda cumpre pena. “Tiramos o Acre das páginas policiais e isso marcou as pessoas”, diz Jorge que, na época, se aliou ao PSDB, com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de Lula. “Deixamos o Estado em outra realidade, reconhecida por todos”, completa.
O petista também é lembrado por assumir o governo estadual com cinco folhas de pagamento do funcionalismo em atraso. Na época, o salário dos servidores públicos estaduais era a base da economia do Estado. A dívida foi saldada em 10 parcelas. “A maior obra do Jorge foi ter recuperado a autoestima do acreano”, elogia o presidente de honra do PV no Acre, Júlio Pereira.
