As declarações do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, apoiando o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança Organização das Nações Unidas (ONU) hoje, durante encontro no Palácio do Itamaraty, não terão resultados positivos e ainda podem atrapalhar o Brasil, segundo avaliam analistas em relações internacionais. “O apoio do Irã não faz a menor diferença prática, e ainda arranha a imagem brasileira lá fora,” afirma Heni Cukier, ex-funcionário do Conselho de Segurança da ONU e professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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No encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o direito de o Irã manter um programa nuclear com fins pacíficos e disse sonhar com “um Oriente Médio livre de armas nucleares.” Do outro lado, o Irã defendeu a reformulação do Conselho de Segurança da ONU e declarou apoio à inclusão do Brasil como membro permanente do Conselho.

Segundo Cukier, o maior empecilho para um país alcançar a vaga no Conselho é a concorrência de países regionais, no caso do Brasil, Argentina e México. Outro ponto essencial seria obter a aprovação dos membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, únicos membros com poder de veto). “O Irã é reconhecido pela ONU por desafiar normas internacionais e por representar uma ameaça aos países vizinhos com sua postura imperialista. Então, só atrapalha o Brasil,” sintetiza.

Para Samuel Feldberg, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), o apoio iraniano pode ser um “gancho” para o Itamaraty justificar a visita de Ahmadinejad. “As relações comerciais entre os dois países são muito pequenas. Talvez, para a diplomacia brasileira, o voto do Irã na ONU possa ser importante. Só que o desgaste do País em receber o líder iraniano é maior”, afirma.

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Armas nucleares

Também não será desta vez que Lula verá o Oriente Médio livre de armas nucleares, como diz sonhar. Na opinião de Heni Cukier, o apelo de Lula não vai abrandar a postura iraniana diante da comunidade internacional ou da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA). “Nem Lula nem o Brasil têm poder para influenciar a política iraniana”, afirma Cukier. Segundo ele, a curta relação diplomática entre ambos não permite esse tipo de influência.

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De acordo com Samuel Feldberg, o Brasil ainda pode se complicar caso um dia descubram a presença de armas nucleares no Irã. “Se isso acontecer no futuro, o Brasil será recriminado por ter defendido um suposto programa pacífico. Portanto, é ridículo o País se colocar nesta situação, até porque não têm condições de vistoriar as instalações iranianas para confirmar se os fins são pacíficos ou não.”

O professor Cukier complementa que o discurso de Lula também não afronta o de Ahmadinejad, que oficialmente alega fins pacíficos (geração de energia). “Não há blefes do Irã sobre a intenção de construir armas nucleares. O único blefe pode ser em relação ao nível de desenvolvimento do programa,” diz.