Apesar de o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), ter sido citado na delação do senador Delcídio Amaral (PT-MS), partidos de oposição estudam aditar ou até mesmo apresentar um novo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff com base na delação premiada do petista, homologada na última segunda-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-líder do PSDB na Câmara Carlos Sampaio (SP) começou nesta terça-feira a conversar com os autores do pedido de impeachment, Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, para definir a estratégia.
A ideia é incluir as supostas tentativas de obstrução da Justiça por parte da presidente Dilma Rousseff que constam na delação, bem como a possível nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um ministério como prova de tentativa de obstrução da Justiça por parte de Dilma.
“Nossa dúvida é se usamos a postura do Delcídio para fazer um aditamento ou se usamos para fazer um novo pedido o fato contemporâneo, que é a interferência dela não só no STJ, como agora obstruindo a Justiça com a indicação do Lula para garantir-lhe uma certa ‘imunidade criminal'”, afirmou Sampaio. Trecho da delação que já havia sido revelado mostrava que Dilma teria tentado interferir na Lava Jato através de nomeação no Superior Tribunal de Justiça.
Uma outra estratégia também tem sido aventada: um novo pedido de impeachment. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já sinalizou a aliados que pode acatar um novo pedido caso o requerimento em curso seja rejeitado Tanto Cunha quanto a oposição negam estar conversando sobre a possível apresentação do novo pedido. Mas, a interlocutores, Cunha já admitiu que poderá autorizar a abertura de um segundo pedido de impedimento de Dilma no futuro, caso o atual seja rejeitado pela Câmara por uma pequena diferença de votos.
Hoje, o STF deve dirimir as dúvidas da Câmara a respeito do rito do impeachment. São questionados os vetos à chapa alternativa e ao voto secreto para eleição da comissão especial e a decisão de dar ao Senado poder para rejeitar o processo de impeachment. Concluído o julgamento, Cunha quer dar início imediato à tramitação, convocando sessões inclusive às segundas-feiras e sextas-feiras.
O atual requerimento está baseado nas chamadas “pedaladas fiscais” praticadas no mandato atual e no anterior. Cunha já tem sobre sua mesa outros seis pedidos de impeachment a espera de avaliação.
Delação
Tucanos tentaram relativizar a delação de Delcídio por ela citar o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). O senador petista diz que Aécio atuou para maquiar as contas do Banco Rural durante CPI Mista dos Correios e que o mineiro recebeu propina em um esquema de corrupção na estatal de energia Furnas.
“Não tenho informações se a delação sobre a presidente é verdadeira. O que posso garantir é que todas as questões em que sou referido são velhas, requentadas e absolutamente falsas”, disse Aécio.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), afirmou que o tempo trará todas as respostas. “Não vamos desclassificar o instrumento da delação, como já foi feito pelo PT. Haverá espaço e tempo para que todas as respostas sejam dadas”, afirmou.
Carlos Sampaio considerou “equívocos” as citações a Aécio. “Não há razão para se desqualificar a delação do senador Delcídio, mesmo quando ele incorre em eventuais equívocos”, afirmou, ressaltando que as menções não são motivo para não utilizar a delação no processo de impeachment.
“Isso não impede que juntemos no TSE nem que deixemos de pedir um novo impeachment porque faz referência ao PSDB”, afirmou em referência ao processo pela cassação da chapa de Dilma que corre no Tribunal Superior Eleitoral.