Vereador de União da Vitória nos anos 50, cidade onde fundou o Hospital Regional de Caridade Nossa Senhora Aparecida, o Ferroviário Esporte Clube e o Instituto Piamarta, que atualmente dá abrigo e formação a 431 crianças carentes, Ireno Vicente é, aos 86 anos de idade, um dos funcionários públicos estaduais mais antigos ainda em atividade. Entre outras ocupações profissionais, foi radiotelegrafista da extinta Rede Ferroviária Federal, delegado de polícia e até mesmo ator de cinema, participando ao lado de astros como Lima Duarte, Herson Capri e Giulia Gam, das filmagens da história do Barão do Serro Azul, locadas na região de Castro, sob direção de Paulo Morelli.

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Muitas destas e outras experiências curiosas serão melhor compartilhadas com o público a partir desta segunda-feira (15/8), às 17 horas, quando ?seu Ireno? fará, no Salão Nobre da Assembléia Legislativa, o lançamento de seu livro de memórias. Um livro singelo, sem ambições propriamente literárias, como ele mesmo diz, mas antes o testemunho de um cidadão em tempo integral que, como sublinha o vice-governador Orlando Pessuti, no prefácio da obra, é dono de ?uma personalidade invulgar, curiosa, interessante, pessoa fora do comum daquelas que encontramos em nosso cotidiano?.

 Tendo sido vereador por nove anos numa época em que os vereadores não eram ainda remunerados em razão do cargo, e sendo funcionário da Assembléia Legislativa há mais de 35 anos, ?seu Ireno? orgulha-se por jamais ter usado um veículo oficial e por nunca ter comido um único e simples sanduíche por conta do serviço público. Por insistência dos colegas, aliás, ele acabou incluindo no livro alguns documentos que bem demonstram o tipo de cuidados que ele, Ireno, sempre dispensou à administração pública. É o caso de um ofício datado de 20 de dezembro de 1979, endereçado ao então presidente da Assembléia, deputado Fabiano Braga Cortes, em que protesta contra o recebimento de uma ?gratificação técnica científica? paga por trabalhos na elaboração do Orçamento do Estado para 1980: ?com o devido respeito à Vossa Excelência, informo que não tive participação alguma nos trabalhos do Orçamento, como pode-se verificar através da Portaria nº 706/79, que indicou os funcionários para tal fim. Considero o recebimento da referida gratificação injusta, mesmo porque, tal ato contraria frontalmente meus princípios, ou seja, de receber qualquer remuneração por trabalhos não executados?. Anexado ao ofício, o cheque no valor do pagamento indevido. Fiel mais uma vez ao estilo, Ireno não quer ser pago pelo livro de memórias: toda renda com a venda dos exemplares será destinada ao Hospital Erasto Gaertner.

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