O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem minimizando a pandemia de Covid-19 desde o ano passado. O mandatário já subestimou o perigo que a doença representa quando a chamou de gripezinha, lançou desconfiança sobre as vacinas que comprovadamente podem diminuir os riscos de morte, e não segue as medidas de proteção contra o vírus, como uso de máscara e distanciamento social.

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Na segunda-feira (7), o presidente fez mais um movimento para espalhar mentiras sobre a pandemia ao afirmar a apoiadores que um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) questionava o número de mortos por Covid-19 de 2020.

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“Em primeira mão aí para vocês. Não é meu. É do tal de Tribunal de Contas da União. Questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. E ali o relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União”, disse Bolsonaro na ocasião.

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“Esse relatório saiu há alguns dias. Lógico que a imprensa não vai divulgar. Eu tenho três jornalistas que eu converso, não vou falar o nome deles, que são pessoas sérias, né. E já passei para eles. E devo divulgar hoje à tarde. E como é do Tribunal de Contas da União, ninguém queira me criticar por causa disso.”

Em seguida, o portal R7 divulgou a informação de que “apenas quatro em cada dez óbitos (41%) registrados por complicações da doença seriam efetivamente resultado da contaminação do vírus”.

O portal afirmou que o documento no qual se baseava tinha sido “citado por Bolsonaro” na portaria do Alvorada. E disse que obteve “um trecho do relatório elaborado pelo TCU” por meio de “fontes do Palácio do Planalto”.

Ao mesmo tempo, um documento apócrifo passou a circular nas redes sociais com os mesmos dados e como se tivesse sido elaborado com informações e conclusões oficiais do TCU. O título dele é “Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil”.

Ainda na segunda, o TCU desmentiu Bolsonaro em comunicado oficial. “O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje.”

Na terça-feira (8), Bolsonaro voltou a insistir que havia indícios de uma supernotificação de casos de Covid no Brasil, mas não apresentou provas.

Até quarta-feira (9), o Brasil registrava cerca de 475 mil mortes causadas pela doença, segundo dados do consórcio de imprensa obtidos diretamente com as secretarias de saúde dos estados.

Ao contrário do que diz Bolsonaro, é muito provável que os números de casos e mortes por Covid no país sejam maiores do que os do registro oficial; é a chamada subnotificação. Ela acontece porque o país faz menos testes do que seria necessário para rastrear todos os casos, incluindo aqueles sem sintomas (assintomáticos) que ainda podem transmitir o vírus.

Um estudo da Vital Strategies, organização internacional voltada para a saúde, indicou que a subnotificação pode ter ocultado cerca de 30% das mortes por Covid. Assim, até o início de maio, quando o estudo foi publicado, o país já teria chegado a 530 mil mortos, e não aos pouco mais de 400 mil que registrava na época.

O trabalho buscou os casos e mortes de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) desde o início da pandemia que aparecem na estatística oficial como “etiologia não especificada ou sem classificação final para Covid”, ou seja, não houve identificação do agente que causou a doença.

“Não tem outra explicação [se não a Covid] para um aumento tão grande casos e óbitos [por SRAG]. Não há outro vírus respiratório agudo agindo concomitantemente ao Sars-CoV-2”, disse a pesquisadora Ana Luiza Bierrenbach, conselheira técnica sênior da Vital Stratregies e autora do estudo, na ocasião do lançamento dos resultados.

Um outro cálculo, feito pela revista britânica The Economist, divulgado também em maio, indicou que o número de mortes por Covid-19 no mundo pode ser até quatro vezes maior do que o registrado até aquele mês. A conta levou em consideração o excesso de mortes registrado em 2020, cujo valor é maior ainda nos países pobres e em desenvolvimento.

Assim, até o mês de maio, o mundo já teria chegado às 10 milhões de mortes causadas pela doença, quando os números oficiais mostravam cerca de 3,3 milhões de óbitos.

A falta de testes que podem dar o diagnóstico da doença é um dos principais entraves para chegar a um número de infecções mais perto do real. Os países que controlaram a disseminação do vírus de maneira mais eficiente, como Austrália e Nova Zelândia, usaram amplamente os testes na população para detectar os infectados e seus contatos mais próximos e fazer um isolamento mais preciso.