A persistente divisão interna que se tornou uma marca do PSDB não se restringe aos caciques do partido. Também não há consenso na base da militância tucana. A dois meses do começo oficial da campanha, apoiadores da sigla divergem sobre qual a melhor estratégia, posicionamento e discurso para tirar o ex-governador Geraldo Alckmin da desconfortável posição nas pesquisas de intenção de voto – nos levantamentos mais recentes, ele registrou entre 7% e 10%. Estes números representam o pior desempenho de um candidato da legenda desde 1989, quando Mário Covas disputou a Presidência.

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Há de tudo no mosaico de grupos que atuam internamente: uma corrente chamada Esquerda para Valer, que vê Cuba com simpatia, outra chamada Ação Popular, uma homenagem a facção de José Serra nos anos 1970, e grupos mais à direita como o Conexão 45, de viés liberal e próximo ao ex-prefeito João Doria, pré-candidato ao governo.

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O ponto central da discórdia nesse momento é sobre a postura diante do principal adversário do partido nas últimas eleições: adotar o antipetismo para se contrapor ao líder das pesquisas, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), ou se aproximar do arquirrival para buscar o voto útil?

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Para medir a temperatura do debate interno, o Estado reuniu na sede do PSDB paulista um grupo de militantes tucanos formado por lideranças que atuam em várias frentes: de diretórios na periferia ao movimento estudantil e alas LGTB, Tucanafro e PSDB Mulheres.

“Temos responsabilidade de dialogar com o PT. No segundo turno, se houver uma disputa com Jair Bolsonaro, não pode ter petista em casa dizendo que não vota em tucano, e tucano dizendo que não vota em petista”, disse Fernando Guimarães, um dos fundadores do Esquerda para Valer.

A afirmação elevou o clima do debate. “Isso me dá dor de estômago. Eu nunca dialogaria com o PT”, respondeu Luciana Reale. Filha do jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, ela foi uma das fundadoras do Vem Pra Rua, organização que liderou o movimento pelo afastamento da petista.

A conversa se transformou então em um bate-boca entre representantes dos “extremos” do PSDB. Integrante do Diversidade Tucana, Wagner Gui Tronolone conseguiu se fazer ouvir ao dizer que a polarização entre PSDB e PT se “fragmentou” após a “queda” do PT. “Qualquer candidato do PSDB era uma referência anti-PT. Hoje esse quadro não existe mais. O cenário atual parece com o da eleição de 1989”, afirmou.

Naquele ano, os candidatos do centro se dividiram – o tucano Mário Covas entre eles. O petista Luiz Inácio Lula da Silva e o então desconhecido “caçador de marajás”, o ex-governador de Alagoas Fernando Collor de Mello, foram para o segundo turno.

FHC

O posicionamento político dos tucanos no espectro partidário também foi motivo de controvérsia. Parte do grupo classifica a sigla como de esquerda. “O PSDB conceitualmente é um partido de esquerda. O legado de Fernando Henrique Cardoso é de esquerda. Mas na bancada federal do partido nos último quatro anos houve movimentações com posições predominantemente de centro-direita. Isso destoa da história do PSDB”, afirmou Guimarães, do Esquerda para Valer.

Guimarães disse ainda que considera Doria um político de “extrema-direita”. “O tucano histórico nunca foi antipetista. Não há a menor hipótese de apoiar uma candidatura que representa o fascismo, como Bolsonaro”, afirmou.

Já o administrador Flávio Beall, que também integra o Vem Pra Rua, sorriu ao ouvir o colega tucano. E reagiu: “É claro que não. Ele não sabe nem o que é fascismo para falar uma bobagem dessa”. Ainda segundo Beall, o eleitor do PSDB perdeu “identidade” com o partido. Muitos tucanos, diz ele, migraram para o Novo ou Bolsonaro. “O Bolsonaro sempre votou com o PT”, reagiu Tronolone, da Diversidade Tucana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.