Antes do Garibaldi, Tony Garcia quebrou a Valtec

A carreira de Antônio Celso Garcia, vulgo Tony Garcia, como administrador de empresas que captam dinheiro da poupança popular, não começou com o Consórcio Garibaldi. Dez anos antes, em 1984, ele quebrou a Valtec – Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. Tinha como sócio Newton Coutinho Filho.

Ambos acabaram tendo seus bens indisponibilizados pelo Banco Central, que decretou intervenção na Valtec. Os dois responderam a processo administrativo (n.º 5006235/85) instaurado pelo BC e a Tony Garcia foi aplicada, em novembro de 1986, a pena de inabilitação permanente para o exercício de cargos de direção na administração ou gerência de instituições na área de fiscalização do Banco Central. A pena, de inabilitação permanente, foi reduzida para oito anos, em 1989, pelo conselho de recursos do Sistema Financeiro Nacional. Menos culpado, seu sócio, Newton Coutinho Filho, recebeu a pena de advertência do BC.

A notícia da intervenção do Banco Central na Valtec explodiu nas manchetes dos jornais em março de 1984. O então presidente do BC, Afonso Celso Pastore, nomeou como interventor o funcionário de carreira Moacir Hércules de Souza. As irregularidades na corretora dirigida por Tony Garcia, na época genro do ex-governador Ney Braga, foram descobertas durante inspeção de rotina, quando o sócio Newton Coutinho Filho encontrava-se esquiando na Suíça. O mercado paranaense vinha abalado desde as intervenções do BC na Corretora Ferraz de Campos e na Denário Corretora, ocorridas meses antes.

A Valtec

Os bens de Tony Garcia e Coutinho Filho ficaram indisponíveis até o encerramento da intervenção. O chefe do Departamento de Controle de Operações do Banco Central distribuiu um comunicado às instituições financeiras e bolsas de valores sobre a indisponibilidade de bens dos dois diretores da Valtec e seus dados de identificação (CPF, RG, filiação etc.), pedindo que “as informações a respeito de eventual existência de bens aí inscritos em nome das pessoas acima identificadas poderão ser encaminhadas a este Departamento, Edifício Sede do Banco Central do Brasil – Setor Bancário Sul, Projeção 33-A, 15.o andar, Brasília -Distrito Federal.”

A Valtec atuava há cinco anos em Curitiba e tinha cerca de 1,2 bilhão de cruzeiros de clientes em carteira. Era ligada à Plantec – Florestamento e Reflorestamento, empresa de Coutinho Filho, e envolvida no chamado “escândalo do palmito” (desvio de incentivos fiscais destinados ao plantio de palmito no Paraná). Ele também foi dono da patente do Banco de Crédito Comercial, vendida a Assis Paim Cunha pouco antes do escândalo Coroa-Brastel.

Garibaldi

O Consórcio Nacional Garibaldi surgiu quando Tony Garcia estava impedido pelo Banco Central de exercer cargo de direção na administração ou gerência de instituições fiscalizadas pelo BC. Por isso, ele nunca apareceu formalmente como dono do consórcio, usando para isso os chamados “laranjas”. Mas não tomou cuidado, “deixou rabo” e o Ministério Público (federal e estadual) acabou encontrando farta documentação que o liga, e a outras firmas que foi montando no correr dos anos (como a Baltimore, a Ramo Corretora de Seguros, a Ipiranga Prestadora de Serviços, a Distribel – Distribuidora de Eletrodomésticos, a TGR Incorporadora Imobiliária etc.) ao Garibaldi. Inclusive dois depósitos bancários feitos para a ex e a atual mulher do agora candidato ao Senado.

Coincidência ou não, a mesma pessoa (Antônio Eduardo de Souza Albertini) que comprou o prédio da Valtec, após a intervenção do BC, também adquiriu, dez anos depois, o imóvel que serviu de sede do Consórcio Garibaldi. Outra coincidência: Albertini manteve duas contas correntes conjuntas com o assessor político de Tony Garcia na Caixa Econômica Federal (conta 1.633-001-4699-2) e no Banco Rural (80.306-3).

Veja também: Garcia ou Garibaldi; mexicano ou italiano?

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