Antaq aponta como uma das principais transgressões do Porto, a proibição ao trânsito de soja transgênica.

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Um relatório da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) acusa a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) de não ter tomado providências suficientes para corrigir irregularidades constatadas nos últimos dois anos e aponta como uma das principais transgressões a proibição ao trânsito de soja transgênica.

Apresentado anteontem à Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, o relatório reforça o movimento que vem sendo feito por alguns setores para cobrar do governo federal uma providência obrigando o governo do Estado a abrir o porto à soja geneticamente modificada.

A intervenção federal no porto tem sido uma das medidas defendidas nos bastidores por adversários do governador Roberto Requião (PMDB). O argumento central é que o porto é uma delegação da União e, portanto, está sujeito à legislação federal e às decisões do governo federal. O levantamento da Antaq foi feito entre 14 e 17 de fevereiro na gestão da Appa para conferir se o porto havia se adequado às recomendações feitas pela agência em 2004. Este é o segundo relatório da agência sobre o Porto de Paranaguá. O primeiro foi apresentado em fevereiro do ano passado.

Na última quarta-feira, dia 30, a Comissão de Agricultura da Câmara aprovou um requerimento do deputado Eduardo Sciarra (PFL), chamando o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para esclarecer quais as medidas constitucionais que irá adotar para fazer o porto se adequar à Lei de Biossegurança, sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há uma semana.

Sem justificativas

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Intitulado Relatório de Acompanhamento da Gestão do Convênio de Delegação dos Portos de Paranaguá e Antonina, o documento diz que a Appa vem descumprindo de forma sistemática a lei federal, ao não permitir o embarque de produtos transgênicos. O relatório aponta que o porto é uma delegação da União e, portanto, seria obrigado a operar toda e qualquer carga legalmente habilitada.

A Antaq considera sem fundamento as justificativas da administração do porto sobre a falta de estrutura para conter o risco de contaminação das cargas de outros produtos pela soja geneticamente modificada. De acordo com o relatório, as empresas que operam granéis alimentares no Porto de Paranagua garantem que é possível fazer o embarque dos transgênicos, sem comprometer os outros produtos, como o milho e o trigo. Conforme o relatório, bastaria fazer os serviços de limpeza e higiene antes e depois de cada tipo de operação.

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O relatório conclui que o argumento do governo para não operar com soja transgênica não se sustenta, "já tendo sido rebatido em exaustivas análises realizadas nos seguidos relatórios apresentados nos processos de fiscalização anteriormente realizados…". O relatório é assinado pelos técnicos José Ricardo Ruschel dos Santos, Rivaldo Pineiro Dantas e Marcos Pagnoncelli.

Categórico

Sciarra disse que o relatório é contundente. "Não deixa margem de dúvidas quanto à inépcia e à irresponsabilidade da Appa. É uma gestão temerária que causa prejuízos ao Paraná e ao Brasil", afirmou o deputado, um dos integrantes da comitiva de parlamentares que visitou os portos de Paranaguá e Antonina, em novembro do ano passado.

A reportagem procurou ontem a assessoria de imprensa da Appa para ouvir a superintendência do porto, mas não obteve retorno. A informação era que a assessora não se encontrava. O Palácio Iguaçu, por sua vez, informou que a entrevista deveria ser obtida por meio da assessoria do porto.

Relatório aponta outras falhas na Appa

O relatório da Antaq não se limita à polêmica sobre a soja transgênica. O documento cita que a Appa falha na conservação dos serviços de sinalização náutica, não tem um serviço de dragagem eficaz, não dispõe de um programa de arrendamento de áreas e programa investimentos da ordem de R$ 380 milhões até 2007 sem a autorização da agência. O documento diz ainda que a Appa não realizou a reestruturação administrativa e organizacional.

No que diz respeito às bóias de sinalização náutica do canal de acesso aos portos de Paranaguá e Antonina, a Antaq afirma que "as providências da Appa referentes à manutenção da sinalização náutica continuam sendo tomadas de afogadilho, uma vez que as manutenções realizadas são apenas as corretivas e imprescindíveis…". O documento menciona que a falta de balizamento levou a autoridade marítima a proibir a navegação noturna no Terminal de Ponta do Félix, no canal de acesso ao Porto de Antonina. O relatório informa, um ano depois, a situação permanece igual, embora a Appa tenha anunciado a realização de licitação para a contratação de uma empresa especializada no serviço.

Sobre os serviços de dragagem, a agência concluiu que os problemas nos serviços de dragagem de manutenção dos berços, bacias de evolução e canal de acesso dificultam o acesso, fundeio e atracação no porto. "A Appa não realiza batimetrias regulares de sua infra-estrutura aquaviária, como também não informa à Autoridade Marítima a respeito do calado máximo de operação dos navios, desrespeitando a legislação federal…".

Quanto à reestruturação administrativa, a agência cita que "os estudos resumem-se a análises sobre o corpo de funcionários, uma descrição e especificação de cargos. Já sobre a reestruturação organizacional, a Antaq diz que não há estudos em andamento.

"A autarquia permanece realizando diretamente a operação portuária, a operação do silo graneleiro, das correias transportadoras, do ship-loader, do painel central, da classificação de granéis, contrariando frontalmente determinação ministerial para que as companhias docas se retirassem da prestação dos serviços portuários, transferindo-a para a iniciativa priva", afirma o documento. (EC)