Estão marcadas para amanhã, 15, várias greves e manifestações. São esperadas paralisações no Rio e em São Paulo de transportes e professores e de funcionários do INSS em diversas cidades do País. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) planeja protestos pelo direito à moradia em São Paulo, em Brasília, no Rio e em Palmas. Em Curitiba e em Belém, as ações deverão ser organizadas pela Frente Resistência Urbana, uma articulação nacional da qual o MTST faz parte. Na página do Facebook do “Dia internacional de lutas contra a Copa”, do Comitê Popular da Copa, mais de 4 mil pessoas confirmaram participação em um protestos na Avenida Paulista.
Apesar da profusão de eventos, o potencial da chamada “Manifestação das Manifestações”, em alusão ao termo “Copa das Copas” usado pela presidente Dilma Rousseff, ainda é uma incógnita. Analistas consultados pela reportagem dizem que a movimentação desta quinta-feira, 15, não deverá ter a dimensão dos protestos de rua vistos em junho do ano passado.
Segundo o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antônio Carvalho Teixeira o movimento “Não vai ter Copa” está desmobilizado entre a população e, por isso, pode não ter o ímpeto que se espera. O professor disse que, neste momento, não vê potencial para o movimento ganhar corpo como no ano passado, mas admitiu surpresa com o ataque à Embaixada do Brasil em Berlim, no início da semana, tido como um ato de protesto contra o Mundial. Para ele, pode haver um crescimento das manifestações ao longo do torneio a depender até do desempenho da seleção brasileira.
Teixeira avalia que houve uma mudança importante dos protestos atuais em relação aos do ano passado. Para ele, em junho de 2013, a pauta de reivindicações era difusa, mas o grupo de manifestação era relativamente coeso. Hoje tanto a pauta quanto os grupos são difusos. “Agora é cada um com a sua pauta e a Copa é um momento para reivindicar”, disse Teixeira.
O sociólogo e consultor de marketing político Mauro de Lima acredita que, antes, as manifestações eram espontâneas, mas que agora ficou claro que há agentes, organizações, por trás. Para Mauro, é importante não haver “ingenuidade” na leitura das próximas manifestações. “Existem certas categorias profissionais se organizando, centrais sindicais, e por trás disso tem candidaturas também”, disse, lembrando que a aproximação do período das campanhas eleitorais. “Quero pagar para ver se efetivamente essa mobilização terá a força que se divulga e possa ter influência direta na queda da popularidade da presidente Dilma.”
O presidente do instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, também mostrou dúvidas sobre a amplitude dos protestos neste ano. No XXVI Fórum Nacional, no Rio, nessa terça, Coimbra lembrou que as pesquisas têm mostrado um aumento da desaprovação da sociedade civil sobre as manifestações. “Tudo indica que os protestos serão menores. O momento não parece propício a grandes manifestações como as do ano passado”, afirmou.
Violência
A queda do engajamento da sociedade nos protestos de rua está diretamente ligada ao nível de violência visto nas ações, dizem os especialistas. “O movimento assumiu essa tonalidade de enfrentamento e isso contribuiu para esvaziar as ruas. Os protestos foram muito fortes, de confronto com a polícia e, mais recentemente, os ônibus queimados”, disse Teixeira, da FGV, lembrando que nessa terça-feira, no Rio, mais de uma centena de coletivos foram depredados em meio à greve do setor.
“Antes, víamos na rua manifestações pacíficas, organizadas, com famílias, estudantes, idosos, mas hoje o que vemos são atos de violência, de pura selvageria. Essa desorganização acaba surtindo o efeito contrário (da mobilização) e, ao mesmo tempo, amedrontador”, disse o consultor Mauro Lima.
Ele não descarta, também, que a estratégia do governo para melhorar a imagem da economia e da Copa possa ter surtido algum efeito sobre a população. Outro fator que trabalha contra os protestos é a paixão do brasileiro por futebol. Se ela não evitou os protestos durante a Copa das Confederações, no ano passado, pode ter uma força maior durante a Copa do Mundo. “O que você vê, hoje, em torno das figurinhas é algo quase irracional”, pontuou Teixeira.