De 77 políticos que figuram como investigados na Lava Jato e se candidataram neste ano, 21 – pouco mais de um quarto – registraram redução do valor de seus bens em relação a eleições anteriores. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo nos dados fornecidos pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que, daquele total, oito informaram queda de mais da metade das cifras declaradas.

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Na outra ponta, 44 políticos declararam aumento de patrimônio – quase a metade apresentou valores nominais pelo menos 50% maiores. Em 12 casos, não houve variação. Para a Receita, movimentações significativas no patrimônio podem ser indícios de irregularidades.

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Foram considerados apenas valores nominais. Segundo analistas, não é possível corrigir declarações de bens com base na inflação, pois a valorização ou desvalorização de um imóvel, por exemplo, não seguem a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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As explicações para ampliação ou queda nos valores declarados incluem crise econômica, recebimento de herança, venda de imóveis, divórcio e dívida por empréstimo bancário.

Investigado na Lava Jato por suposto repasse de R$ 200 mil da Odebrecht na eleição de 2010, o deputado Heráclito Fortes (DEM-PI) citou a venda de um avião para justificar a redução no patrimônio, que caiu de R$ 5,16 milhões, em 2014, para R$ 1,55 milhão declarado em 2018.

“Diminuiu porque nunca roubei”, afirmou o parlamentar. A aeronave King AIR C9-GT, ano 2007, que constava na última candidatura, com o valor de R$ 3,78 milhões, foi retirada.

O deputado disse que ficou com metade do valor e que tudo foi informado à Receita. “Nunca fui questionado.” A investigação aberta inicialmente no Supremo Tribunal Federal foi enviada à Justiça Federal do Piauí. O deputado alega inocência.

‘Crise’

O senador Valdir Raupp (MDB-RO), réu na Lava Jato, é outro que declarou patrimônio menor neste ano. Ele tinha R$ 728,6 mil em 2010, a última vez que disputou eleição, e agora informou ter R$ 264,9 mil. O motivo, segundo ele, foi a crise. “Da mesma forma como a crise econômica atingiu milhares de brasileiros, o senador sofreu prejuízos financeiros motivando redução do seu patrimônio”, disse sua a assessoria.

A maior queda foi a do senador Benedito de Lira (PP-AL). Ele declarou R$ 723,2 mil em 2014, quando concorreu ao governo de Alagoas, e agora disse ter R$ 76,6 mil. Ele tenta se reeleger ao Senado. O parlamentar teve bens bloqueados em uma ação de improbidade ligada à Lava Jato e está recorrendo no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região.

No Supremo, Lira foi alvo de duas denúncias na Lava Jato, uma arquivada e a outra – a do “quadrilhão do PP” – ainda não julgada. “Esse é um assunto que eu não vou discutir, porque a minha declaração de Imposto de Renda está na Receita”, afirmou Lira à reportagem, desligando o telefone em seguida.

No sentido inverso está o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), também denunciado no “quadrilhão do PP”. Seu patrimônio cresceu mais de 1.000% em oito anos, em valores nominais. Saiu de R$ 1,9 milhão, em 2010, para R$ 23,3 milhões neste ano, quando tentará a reeleição. A justificativa é uma herança deixada pelo pai, além de negócios “bem-sucedidos” não especificados.

Outros candidatos que informaram à Justiça Eleitoral patrimônios menores foram o líder do governo no Senado e presidente do MDB, Romero Jucá (RR), em 68%, o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL), em 14%, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), em 24%, e o senador Humberto Costa (PT-PE), em 41% – todos tentam reeleição.

Jucá disse que não comentaria sua declaração, apresentada, segundo ele, conforme exigência da lei. Costa afirmou que sua variação patrimonial se deve à separação conjugal e à venda de um veículo. Disse ainda que não houve transferência, doação ou venda de bens para familiares e que o fato de ser investigado não teve impacto na gestão de patrimônio.

Receita

O subsecretário de Fiscalização da Receita, Iágaro Jung Martins, afirmou que o aumento de patrimônio sem que haja uma renda para suportar aquela variação pode atrair a atenção do órgão. “Temos uma equipe de auditores para detecção de fraudes de agentes públicos. Esses auditores se debruçam para analisar a variação patrimonial e, quando há indício de que a origem do recurso que deu suporte à variação patrimonial não é recurso lícito, a Receita autua também”, disse.

A Receita já autuou 67 pessoas investigadas na Lava Jato após identificar algum indício de irregularidade. Em termos de valores, elas respondem a um total de R$ 257.322.393,57 em ações autuadas na Receita até 12 de junho. O órgão não informa os nomes das pessoas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.