Aos aproximar-se dos 70 anos – a serem completados no mês de agosto – a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) continua vocacionada a ser um palco importante no debate político nacional. Na noite desta terça-feira, 22, cerca de 300 estudantes participaram de uma assembleia na “prainha” (pátio localizado entre os dois prédios da universidade). Na pauta, a reação, considerada “mole”, da reitoria ao confronto entre estudantes e a Polícia Militar na noite de segunda-feira, 21.
Paralelamente ao ato, a instituição promovia uma missa em comemoração ao seu aniversário com participação do cardeal dom Odilo Scherer. A expectativa dos estudantes era constrangê-lo com um jogral na frente da capela, mas as deliberações demoraram o bastante para o cardeal ter tempo de encerrar a missa. O jogral foi então realizado em frente ao Tuca Arena – onde ainda ocorriam festividades sem a presença do religioso.
A deliberação sobre a manifestação foi atravancada por longas discussões sobre o impeachment e o fim da Polícia Militar. Além disso, um estudante tomou a palavra e, ao se posicionar a favor do impeachment, fez comentários machistas que quase terminaram em agressão. O rapaz foi retirado da prainha pelos próprios estudantes.
Após discutirem por cerca de 30 minutos se deveriam continuar os debates dentro da PUC ou seguirem para a rua – com propostas de fechar as avenidas Francisco Matarazzo ou Sumaré, o grupo seguiu para a Matarazzo. Por aproximadamente 10 minutos fecharam parcialmente a via e gritaram palavras de ordem pedindo o fim da PM e dizendo não ao golpe. N o caminho, moradores da região reagiram de forma equilibrada com panelaços, mas também aplausos ao ato.
Manhã
De manhã, um ato parecido aconteceu em frente à universidade. A pauta foi a mesma: “Em nota, a reitoria lamentou o ocorrido. Como assim ‘lamentou’? Os estudantes dessa instituição são agredidos pela Polícia Militar e a PUC só lamenta? Nós exigimos um posicionamento mais firme da instituição”, disse o estudante de Direito, Vitor Bastos, 22 anos. “A PUC precisa honrar sua própria história”, completou.
Segundo os alunos que estavam presentes à assembleia da manhã, a história da noite de segunda-feira lembrou o pior dos anos de chumbo. “Teve bomba, gás pimenta, bala de borracha e ataques ao próprio prédio da instituição”. O entrevero começou quando um grupo simpático ao governo Dilma tentou discursar em cima do caminhão de som onde alunos da FEA-PUC (faculdades de Direito, Administração e Economia) falavam a favor do impeachment. A partir daí, os empurrões acabaram se intensificando e a polícia agiu formando um cordão de isolamento entre os grupos. Não demorou para que a situação saísse do controle. A foto de um PM atirando contra o prédio da PUC espalhou-se pelas redes sociais – causando ainda mais revolta entre estudantes e professores.
Mas o embate teria nascido dentro da própria instituição. Durante o ato realizado no TUCA em defesa da legalidade institucional, na quarta-feira da semana passada, intelectuais, juristas e políticos se manifestaram contra o impeachment. O evento contou com a participação de nomes importantes da esquerda, como a filósofa Marilena Chauí e o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos. Os organizadores consideraram o encontro um sucesso. Além do teatro lotado, estudantes e interessados ocuparam a Rua Monte Alegre para acompanhar o ato por meio de um telão.
Os apelidados “pessoal do prédio novo”, alunos de economia, direito e administração (que ocupam as salas de aula do chamado “prédio novo da PUC”), no entanto, teriam se incomodado com o ato do TUCA, que consideraram uma ação “pró-governo” e “antidemocrática”. O grupo decidiu então realizar um ato em apoio ao juiz Sérgio Moro e ao processo de impeachment em frente à PUC nessa segunda-feira, que terminou em confronto.
Confusão
Estudantes da PUC disseram que vários colegas precisaram ser atendidos na enfermaria da universidade – principalmente por consequência da inalação de gás pimenta. Estudantes também afirmam ter presenciado um bate-boca entre o Chefe de Gabinete na PUC/SP, Lafayette Pozzoli, e uma professora das Ciência Sociais. “Ele colocou o dedo na cara da professora e disse que ela era responsável por aquilo que estava acontecendo, disse que ela estava insuflando os alunos”, contou Bastos – que não quis revelar o nome da professora. A assessoria da PUC nega que algo assim tenha acontecido – e que o professor esteve no ambulatório, mas para prestar solidariedade aos alunos.
Depois da assembleia de estudantes da terça-feira de manhã, a PUC enviou um ofício ao governador Geraldo Alckmin ressaltando “o descontentamento com as ações da Polícia Militar frente às manifestações no último dia 21 de março em nossa Universidade em que alunos foram vítimas de bomba, tiros de borracha e gás lacrimogênio”.
O Centro Acadêmico Leão XIII , da FEA-PUC também publicou nota se dizendo apartidário e garantindo que não apoiará atos contra ou a favor do governo. “Alguns membros do nosso CA podem ser a favor do impeachment e ter participado das manifestações, mas não falam pela totalidade da FEA”, disse um representante do Leão XIII.
O aluno de administração Thiago Badu disse que, embora a esquerda seja mais barulhenta, os grupos a favor do impeachment já não são mais minoria. “A PUC está dividida, meio a meio”, disse. “Creio que o clima na universidade vai ficar pesado, pois os mesmos que se bateram ontem (segunda-feira), irão se encontrar nos corredores da PUC”, completou.