O bilhete repassado à Polícia Federal (PF) pelo jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido como Edson Sombra, é de autoria do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), confirmou hoje a um grupo de jornalistas, em Brasília, o deputado distrital Geraldo Naves (DEM), aliado do governador. Sombra foi quem encorajou Durval Barbosa a revelar como funcionava o esquema de corrupção chamado “Mensalão do DEM”, que o governador é acusado de chefiar. Sombra disse à Polícia Federal que o bilhete indica uma tentativa de Arruda de suborná-lo para que prestasse depoimento negando participação do governador no esquema, mas Naves negou.
Sombra entregou o bilhete à PF em depoimento logo após a prisão do servidor público Antônio Bento da Silva, conselheiro do Metrô do Distrito Federal, flagrado pela PF entregando R$ 200 mil ao jornalista. O dinheiro seria para que Sombra afirmasse que teriam sido manipuladas as gravações em vídeo feitas por Durval Barbosa, com autorização judicial, nas quais vários deputados distritais, secretários de governo, assessores e o próprio Arruda aparecem recebendo maços de dinheiro que seriam pagamento de propinas.
Antonio Bento disse à PF que os R$ 200 mil lhe foram entregues por Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular de Arruda. O bilhete atribuído ao governador foi entregue a Sombra pelo deputado Geraldo Naves. Durval Barbosa foi secretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal. No bilhete, estão escritas cinco frases não interligadas – “gosto dele”; “sei que tentou evitar”; “quero ajuda”; “sou grato”; e “Geraldo está valendo” -, além da expressão “GDF ok”. GDF quer dizer Governo do Distrito Federal.
“O item que diz ‘quero ajuda’ foi uma forma carinhosa de falar com os amigos e com outras pessoas que pudessem ajudar neste momento difícil que (o governador) está passando pela crise. Foi um bilhete tão normal, ingênuo. Não tem nada a ver uma coisa com outra”, afirmou o deputado Geraldo Naves.
A jornalistas que o entrevistaram pelo sistema viva-voz de um telefone celular, Naves relatou que Sombra lhe telefonou assim que foi deflagrada a Operação Caixa de Pandora, da PF, que desvendou o esquema de corrupção. Segundo Naves, Sombra estaria preocupado com o patrocínio do governo local ao jornal em que ele trabalha. “O Sombra pediu para que eu dissesse que ele não tinha nada com isso (as denúncias feitas por Durval). O Arruda escreveu o bilhete e disse que não tem nada contra o Edson”, relatou Naves.
Caso seja comprovado que o governador foi o mandante de uma tentativa de suborno, Arruda pode ser preso por “obstrução da Justiça”.
A assessoria de imprensa do governador afirmou, em nota oficial, que a denúncia é “uma farsa grotesca”. Segundo o deputado Geraldo Naves, a mensagem não tem relação com a tentativa de suborno. Seria, segundo ele, um sinal de que o governador não estava chateado com Sombra. O deputado confirma ter entregado a mensagem do governador no início de dezembro de 2009. Sombra havia dito à PF que a entrega se deu em janeiro deste ano. Naves é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa do Distrito Federal, colegiado responsável pela análise dos três pedidos de impeachment do governador.