O vice-presidente da República, José Alencar, continuou sua pregação contra as altas taxas de juros ontem em Curitiba, durante 1.º Encontro Nacional do Empreendedor e do 14.º Congresso Brasileiro da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil.
“É preciso criar coragem e desencabrestar o país do regime de juros que é o adversário do desenvolvimento”, defendeu o vice-presidente, durante a abertura do encontro, onde os dirigentes das entidades empresariais e o governador Roberto Requião (PMDB) já tinham feito críticas à política econômica em seus discursos na abertura do evento.
Alencar definiu o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, como um “moço de bem”, que adotou um modelo econônimo adequado ao clima de desconfiança do mercado internacional no início do governo, mas que já deveria ter sido modificado há muito tempo. “Conheço bem o Palocci. É um moço de bem. Quando íamos assumir, havia aquela expectativa de que a vaca iria para o brejo. Que o Lula faria um governo irresponsável. Esperava-se o recrudescimento da inflação. Era um quadro aterrador e não tinha como adotar outra política. Mas passado um ano já poderiam ter começado a fazer as mudanças radicais”, afirmou o vice-presidente da República.
Ele apresentou uma tabela com o ranking das taxas de juros base cobradas em trinta países. O Brasil apareceu em primeiro lugar com 9,5%, descontada a expectativa de inflação dos 12 meses, seguido pela Colômbia com 2,2% e a Malásia com 2%. “O Brasil é campeão absoluto. Se essa taxa fosse a do mercado internacional eu não abriria a boca para reclamar”, observou Alencar, citando que a média de um grupo de trinta países é de juros de 0,4% ao ano e de 1% em países emergentes.
“Nós estamos pagando juros dez vezes maiores que a taxa média de trinta países. E cinco vezes mais do que deveríamos pagar”, afirmou o vice-presidente. Alencar afirmou que já vem sendo chamado de o homem do discurso de uma nota só. “Como o Tom Jobim fez o samba de uma nota só e foi um sucesso, fiquei tranqüilo. Esse meu samba dos juros também tem sido uma unanimidade nacional.”
“Companheiro”
Homenageado pelas entidades empresariais por suas medidas de isenção de impostos às microempresas, com o prêmio “Amigo da Microempresa”, o governador Roberto Requião também voltou a bombardear a política econômica. Requião falou antes do vice-presidente e o chamou de “companheiro”. Disse que companheiros são aqueles que “repartem o pão farto e doce dos bons momentos e o amargo e parco dos momentos difíceis”. E que ele e o vice-presidente eram acima de tudo “companheiros” por dividirem “o pão que o Palocci amassou”.
Requião disse que até o ano passado elogiava a política econômica por considerar que o modelo dava estabilidade ao país. Mas, agora, Requião disse que não sabe mais o que acontece com o Brasil. “Temos que baixar os juros de qualquer maneira”, disse. O governador fez um relato dos resultados do programa de isenção de impostos, associando-o à geração de empregos no Estado, e acrescentou que os erros na política econômica impediram maiores avanços.
Cabo eleitoral
O vice-presidente da República dedicou parte de sua agenda ontem em Curitiba ao seu partido, o PL. Alencar almoçou com o candidato a prefeito do PL, deputado estadual Mauro Moraes e reuniu-se com dirigentes e filiados do partido no início da noite. Alencar gravou mensagens de apoio à candidatura de Moraes e posou para fotos ao lado de candidatos a vereador. Moraes disse que o vice-presidente prometeu retornar a Curitiba para participar de atos da campanha eleitoral. A declaração de apoio do vice-presidente será exibida no programa eleitoral gratuito do PL.