O mineiro José Alencar Gomes da Silva, de 79 anos, foi o vice-presidente que mais tempo permaneceu na interinidade da República. Durante viagens internacionais do presidente Lula, ele esteve 503 dias à frente do governo. O número inclui estadias de Lula no exterior de 15 de janeiro de 2003 a 4 de dezembro de 2010. Alencar deixou para trás vices de longo tempo no comando do Executivo, como Marco Maciel (312 dias), Delfim Moreira (194) e Aureliano Chaves (181) e ultrapassou um titular eleito, Jânio Quadros (265), e outros cinco empossados.
A maior façanha de Alencar, na avaliação de pessoas que conviveram com ele no Planalto, no entanto, não foi o tempo de uso da cadeira presidencial – um ano, quatro meses e 17 dias, quase 20% do período dos dois governos Lula. Alencar conquistou um espaço na imprensa e na mídia em plena era do titular “pop star” com a bandeira da redução da taxa de juros, o debate dos alimentos transgênicos e, nos últimos anos, a luta pessoal contra o câncer. Ao contrário das avaliações do próprio governo, ele não foi ofuscado por Lula.
O ex-vice-presidente da República José Alencar morreu na tarde de hoje, às 14h41, “em decorrência de câncer e falência de múltiplos órgãos”, de acordo com boletim divulgado às 15 horas pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde ele foi internado ontem.
O vice que menos tempo passou no exercício da Presidência foi José Maria de Alkmim, que em 1965 permaneceu na função por três horas. Foi o tempo que o titular, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, gastou para inaugurar uma ponte entre o Brasil e o Paraguai. Nem sempre o País teve vice-presidente. Nos regimes “revolucionários” e “ditatoriais” do presidente Getúlio Vargas (1930-1945), por exemplo, a Constituição previa que, na ausência do chefe de Estado, outro presidente era escolhido.
Os vices, quando eram eleitos ou selecionados de forma indireta, sempre estiveram envolvidos em polêmicas e debates políticos acalorados. O primeiro vice da história da República, Floriano Peixoto, foi acusado de tentar conspirar contra o titular, marechal Deodoro da Fonseca. Peixoto foi também o primeiro vice a assumir em definitivo o cargo de presidente, com a renúncia de Fonseca, em 1891. Depois dele, outros vices chegaram à chefia do Executivo – Nilo Peçanha, João Goulart, José Sarney e Itamar Franco. Por questões políticas, os vices Pedro Aleixo, em 1967, e Jango, em 1961, foram impedidos de assumir a função em definitivo com o afastamento do titular. Jango, depois de muita negociação política, conseguiu atingir o posto.
Mineiro como Alencar, Delfim Moreira foi o único vice a morrer na função, em 1920, depois de ocupar a interinidade por oito meses com a doença do presidente Rodrigues Alves, que morreu. Moreira tornou-se vice do novo presidente, Epitácio Pessoa. Foi no mandato de Pessoa que Moreira morreu também. Francisco Silviano, em 1902, e Urbano Santos da Costa, em 1922, foram outros vices que faleceram depois de eleitos, mas nem tomaram posse.