Após a derrota de Hélio Costa na disputa pelo governo de Minas Gerais, que reabriu feridas internas na aliança entre PMDB e PT, a base aliada ao governo Lula escalou o vice-presidente José Alencar para uma simbólica coordenação da campanha em segundo turno de Dilma Rousseff no Estado. Mesmo enfrentando um agressivo tratamento de saúde, Alencar atendeu a um pedido do presidente para evitar a desmobilização no segundo maior colégio eleitoral do País.
Hoje, durante mais de três horas, o vice comandou no seu escritório particular em Belo Horizonte uma reunião com as principais lideranças do campo lulista no Estado e indicou o tom a ser adotado: criticou a “hegemonia” de São Paulo e disse que a eleição de Dilma representa a volta de Minas ao comando do governo federal, alegando que o Estado está cansado de oferecer vice-presidentes. Ele também engrossou os afagos e o cortejo à candidata do PV, Marina Silva.
Em Minas, Dilma venceu com 46,98% (5,06 milhões de votos). Serra alcançou 30,76% (3,31 milhões) e Marina (PV), 21,25%, o que corresponde a 2,29 milhões de votos. Apesar de o ex-governador e senador eleito Aécio Neves (PSDB) ter apregoado empenho total na candidatura de Serra no segundo turno, os aliados de Dilma acreditam que ela pode repetir 2006 – quando Lula ampliou a vantagem sobre o então candidato tucano, Geraldo Alckmin. Numa ofensiva sobre os eleitores ‘aecistas’, Alencar afirmou que o governador Antonio Anastasia (PSDB) foi reeleito na onda do “Dilmasia”.
“Pela lógica dos elevados interesses nacionais, digo que a vitória de Dilma consulta também aquilo que diga respeito ao interesse do governo de Minas, porque foi vitorioso com votos também da Dlima Rousseff”, disse. “Isso aí é um fato”, acrescentou. De acordo com o vice-presidente, a candidata petista, que nasceu em Belo Horizonte, mas fez carreira política no Rio Grande do Sul, é uma “mineira legítima” que “continua pronunciando ‘uai’ melhor do que nós que estamos aqui”.
Para Alencar, “temos uma preocupação muito grande com a hegemonia de São Paulo por uma razão muito simples: São Paulo é a matriz econômica do Brasil, tem toda a força econômica nacional, é muito importante que as forças políticas estejam presentes contemplando o Brasil como um todo”.
Encontro
O encontro reuniu cerca de 50 pessoas em um pequeno auditório. A ordem é manter a coalizão e abafar a disputa interna no PT entre o ex-ministro Patrus Ananias (PT), candidato a vice na chapa derrotada, e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), que não conseguiu se eleger para uma vaga no Senado.
O ex-prefeito e Costa, que empreenderam uma dura disputa no longo processo de definição do candidato a governador – no qual foi imposto o nome do peemedebista para não ameaçar a aliança nacional -, ficaram ainda mais distantes. A previsão de fracasso nas urnas recrudesceu entre os petistas o racha de 2008, quando o grupo de Pimentel se aliou a Aécio para eleger Márcio Lacerda (PSB) prefeito da capital mineira, num acordo que teve a oposição de Patrus.
Na semana passada, o ex-ministro acusou a aliança com os tucanos de ser a causa do enfraquecimento da militância petista em Belo Horizonte e região metropolitana. Na prática, Patrus e Pimentel já deflagraram a disputa interna de olho na eleição municipal de 2012.
Ladeado por Costa, Patrus e lideranças do PT, PMDB e PC do B, o vice presidente exortou o campo lulista se unir em torno de “causa nacional”. “Uma causa que diz respeito ao interesse maior do nosso país e não de nenhum de nós especialmente”. Pimentel e o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia (PSB) também participaram da reunião.
Marina
Alencar disse que, independentemente da decisão de Marina, é preciso aproveitar o exemplo da candidata do PV, a quem saudou pela “vitória” nas urnas. “Ela demonstrou muito valor nessa campanha, uma demonstração de que é aquela grande mulher brasileira da selva amazônica que encanta o mundo”. O vice-presidente disse também que Marina “mereceu do presidente Lula todo prestígio, toda força, toda autoridade para fazer aquele trabalho admirável que ela fez”.
Coordenação
Uma das estratégias dos aliados de Dilma em Minas é dividir a coordenação da campanha de forma setorial, designando lideranças para atuação específica junto a movimentos populares, entidades, sindicatos, entre outros. Alencar foi definido como o “inspirador” do grupo. “Não tem nome melhor para nos coordenar do que o José Alencar, que é filiado honorário do PT”, afirmou o presidente do PT-MG, Reginaldo Lopes.
O vice-presidente lembrou que hoje retoma o tratamento quimioterápico em São Paulo, mas prometeu estar de “de coração presente” na campanha. “Tenho uma sessão pesada de quimioterapia amanhã. Então, se não der problema de efeito colateral muito forte, eu posso voltar para Belo Horizonte”, explicou.