O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decidiu trocar o comando do Arquivo Público do Estado de São Paulo para instalar na chefia do órgão um quadro do PSDB. De perfil técnico, o coordenador substituído afirmou em carta a amigos que “o cargo foi requisitado pelo governador, para acomodar alguém do partido”, e disse se tratar de “coisas usuais de governança, em ano de vésperas de nervosa eleição”.
Carlos Bacellar deixou o posto na quarta-feira, 31, após seis anos e meio na função. Ele é professor de História na Universidade de São Paulo, de onde estava licenciado e para onde retornará. Bacellar será substituído por Izaias Santana, procurador da Prefeitura de São Paulo e presidente do PSDB em Jacareí (SP), onde disputou e perdeu a eleição para prefeito em 2012.
Com um Orçamento de R$ 18,8 milhões em 2013, o Arquivo Público, que sempre foi um órgão técnico, passou a ser alvo de cobiça de aliados de Alckmin depois de ganhar importância administrativa e visibilidade na gestão Bacellar. De órgão subordinado à Secretaria de Cultura, passou a ser abrigado na Casa Civil. Desde 2011, é o Arquivo que gerencia a Lei de Acesso à Informação no Estado. Em 2012, para que fosse expandido, ganhou um conjunto de edifícios novos ao custo de R$ 87 milhões. Também digitalizou e lançou na internet centenas de milhares de arquivos do Dops sobre a ditadura militar.
Bacellar disse que o secretário adjunto da Casa Civil, José do Carmo Mendes Jr., foi quem o convocou para explicar que Alckmin solicitou o cargo porque precisava fazer uma nomeação. Segundo ele, Mendes Jr. agradeceu pelos serviços prestados e pediu compreensão, dizendo tratar-se de um órgão estratégico e de grande visibilidade, e de um ano pré-eleitoral.
“Não estava esperando sair”, disse o agora ex-coordenador. “Acho estranha a mudança, o trabalho foi bem feito, elogiadíssimo. Mas é assim, se você faz um trabalho bem feito, vira alvo de cobiça.” A saída de Bacellar causou preocupação entre os funcionários do órgão – eles temem que o Arquivo seja aparelhado e perca parte de seu caráter técnico.
A reportagem apurou que, além da preocupação de instalar um quadro do PSDB com vistas às eleições de 2014, a mudança também tinha um outro caráter partidário: uma ala tucana queria a saída de Bacellar porque ele é filiado ao PT. A Associação Nacional de Professores Universitários de História, com sede na USP, interpelou a Casa Civil, enviando uma mensagem em que manifesta “estranheza” com a substituição do antigo coordenador e solicita esclarecimentos sobre a “intempestiva medida”.
O secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, afirmou se tratar “de um processo de mudança que está acontecendo em todo o governo, e agora no Arquivo”. Ele negou motivação eleitoral e partidária na mudança. “A visão do governador é que o órgão tem caráter de Estado”. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.