O prometido ajuste na economia pode dificultar a execução dos compromissos sociais do programa da candidata Marina Silva (PSB). Declarações recentes de auxiliares econômicos de Marina vão nessa direção.
Ao jornal Valor Econômico, o economista Eduardo Gianetti afirmou que as promessas serão cumpridas conforme as condições econômicas permitirem, sem que haja prejuízo fiscal para a economia brasileira.
O próximo governo deverá ter pouca margem de manobra por causa da piora das contas públicas e dos vários desequilíbrios apresentados pela economia brasileira.
A piora fiscal já colocou o Brasil no radar das principais agências de classificação de risco. Na semana passada, a Moody’s revisou a nota de crédito do Brasil de estável para negativa. No fim de março, outra agência, a Standard & Poor’s (S&P), rebaixou o rating brasileiro para BBB-, o menor possível entre os países com “grau de investimento”.
“Não existe (a possibilidade) de aumentar nada em 2015. O ano que vem vai ter que cortar (gastos). A margem de manobra é zero”, disse Raul Veloso, especialista em finanças públicas. “A Marina está se direcionando para atender as demandas das manifestações (de junho), que chamaram a atenção para a pobreza dos serviços públicos. É difícil imaginar, em qualquer época, que os serviços públicos seriam melhorados sem o aumento do gastos. Se isso ocorresse, eu diria que seria um escândalo de eficiência.”
Em 2015, a economia também deverá crescer pouco. O Boletim Focus – pesquisa semanal feita pelo Banco Central -, divulgado ontem, mostra que o mercado aposta em crescimento de apenas 1,04% para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015. Em janeiro, a previsão era de 2,50%.
“Um ajuste vai ser necessário, mas eu questiono um pouco o fato de o Brasil crescer pouco. Quando há uma situação de recessão, a retomada é sempre mais robusta”, afirmou Marcelo Moura, professor de macroeconomia e finanças do Insper. “Isso ocorre porque a economia fica com capacidade ociosa e não é preciso investir tanto para crescer.”
Inflação
A campanha de Marina também demonstrou preocupação com a promessa de manter o centro da meta de inflação em 4,5%. Na última ata, o próprio Banco Central admitiu que o índice só vai convergir para 4,5% no início de 2016. Ou seja, somente no segundo ano do próximo governo.
No domingo, o jornal Folha de S. Paulo informou que o economista Alexandre Rands, um dos mais próximos da ex-ministra, propôs aumentar o centro da meta, sobretudo por causa do represamento dos preços administrados. Marina negou qualquer mudança.