A divulgação pela Secretaria Estadual de Comunicação Social de um levantamento sobre os gastos oficiais com publicidade entre 1995 e 2006 (dois mandatos de Jaime Lerner e o mandato anterior do governador Roberto Requião) enfureceu os deputados da bancada de oposição na Assembléia Legislativa que são sócios ou proprietários de veículos de comunicação.
Autor da proposta de criação de uma Comissão Especial de Investigação sobre as despesas do atual governo com publicidade, o deputado Marcelo Rangel (PPS) disse que renuncia ao mandato se o secretário de Comunicação Social, Airton Pisseti, provar que as emissoras de rádio, atualmente pertencentes à sua família, receberam R$ 1,1 milhão durante as gestões de Lerner. Rangel disse que uma das emissoras da família, a Rádio Central, foi adquirida apenas em 2005. A outra, Rádio Mundial, pertence à família há mais de 20 anos.
Pisseti afirmou a O Estado que os números são oficiais e irrefutáveis. E sugeriu que Rangel, ao invés de reagir ameaçando renunciar ao mandato, deveria deixar que a Receita Federal avaliasse a autenticidade dos números do relatório. ?Vamos deixar esses dados para o Imposto de Renda avaliar?, afirmou o secretário. Rangel disse que vai ajuizar hoje uma ação contra Pisseti por danos morais.
O líder da bancada de oposição, deputado Valdir Rossoni (PSDB) e o deputado Luiz Carlos Martins (PDT) também contestaram os números apresentados pelo governo. Os dois defenderam a transformação da Comissão Especial de Investigação em uma Comissão Parlamentar de Inquérito. ?Nós estamos tratando com um setor do governo que tem muitos marginais. E com marginal não se pode tratar se não tiver poder de polícia?, afirmou Rossoni. Ele é um dos sócios da Rádio Difusora de União da Vitória que, de acordo com os dados do governo, teria recebido R$ 2,1 milhão em verbas de propaganda durante os dois mandatos de Lerner.
Atualmente dono da Rádio Banda B, que, conforme o levantamento, foi contemplada com R$ 1,5 milhão entre 95 e 2002, o deputado Luiz Carlos Martins aparece no relatório como um dos comunicadores que recebeu R$ 751,4 mil nos governos Lerner. O deputado assegura que os valores não correspondem à realidade. Ele negou também que tenham sido destinados R$ 39 mil à emissora, entre 2003 e 2006. Martins adquiriu a emissora há oito anos. Antes, a rádio pertencia ao empresário Mário Celso Petraglia, afirmou. ?Nunca recebi nada no governo Requião. Mas entrar numa discussão dessas é entrar no jogo do governo?, afirmou.
Receita Federal
Pisseti encaminhou ao líder do governo, Luiz Claudio Romanelli (PMDB), as cópias do relatórios dos serviços executados por tipo de mídia, detalhando os desembolsos do governo com publicidade para as emissoras da família Rangel.
O secretário não quis comentar as declarações de Rossoni. ?Isso é muito baixo?, reagiu.