O mais recente lote de documentos produzidos pelo serviço de inteligência da Aeronáutica durante a ditadura militar e aberto a consulta na última terça-feira passou por um filtro antes de ser entregue ao Arquivo Nacional. Além de sinais de que folhas foram deliberadamente arrancadas, o lote de documentos traz informações que não indispõem a Aeronáutica com políticos que foram perseguidos no passado pelo governo militar, como José Serra e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.
As informações passadas pela Aeronáutica no ano passado, por exemplo, são elogiosas a Fernando Henrique. O relatório encaminhado nesse lote para o Arquivo Nacional, datado de 1994, descreve o então ministro da Fazenda como detentor de um “currículo invejável todo construído na esquerda e na oposição aos governos pós-1964”.
O ex-governador José Serra (PSDB-SP) aparece apenas mencionado como então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), sem nenhuma crítica à sua militância. Sobre o ex-presidente Lula, a Aeronáutica encaminhou somente recortes de jornais datados da década de 80, relatos da participação dele em reuniões sindicais e informes com detalhes de negociações salariais. Vale ressaltar que os três foram espionados durante o regime militar.
Além desse tratamento burocrático dirigido a quem o governo militar perseguia na época, há papéis – nos mais de 50 mil documentos – que evidenciam essa filtragem do acervo. Um desses documentos, por exemplo, tem apenas uma página – que está grampeada e faz referência a outras informações que seguiriam anexadas. Essas outras folhas, no entanto, não foram entregues ao Arquivo Nacional. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.