Aécio e Campos vão ao palanque sindical

No momento em que travam uma disputa acirrada pelo apoio de dirigentes industriais e do mercado financeiro e falam em adotar medidas duras na economia para combater a inflação, os dois principais candidatos de oposição a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB), subirão hoje no palanque da comemoração do Dia do Trabalho em São Paulo hoje com visões diferentes sobre a pauta trabalhista.

O tucano e seus aliados falam abertamente em flexibilizar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em alguns setores da economia, como o turismo e o agronegócio, a fim de combater a informalidade. O pré-candidato do PSB aproveita para marcar posição, dizendo que não imagina construir o Brasil “tirando direito dos trabalhadores”.

Os dois se revezarão no palanque montado pela Força Sindical para celebrar a efeméride do 1° de maio. A posição de Aécio, externada em encontros recentes com empresários, causa desconforto na Força Sindical, central que promete apoiá-lo na campanha. Isso porque, para os sindicalistas, mexer nas leis trabalhistas, mesmo que pontualmente, é como mexer em algo “sagrado”.

“Temos que ter coragem de debater isso. Em determinados eventos e regiões, a falta de flexibilização no turismo tem levado à informalidade”, disse o senador na semana passada depois de um encontro na Associação Comercial de São Paulo. Ele já tinha defendido essa tese para empresários do setor em uma feira no começo de abril.

Na segunda-feira, deu um passo adiante no encontro da capital. “Defendemos flexibilizações pontuais, mas se chegarmos a conclusão de que elas podem ser necessárias em outros setores, vamos discutir isso”.

Reação

“Se o Aécio colocar isso em pauta, ele vai levar chumbo grosso dos trabalhadores. Se vier com essa conversa, não terá apoio de nenhum trabalhador”, disse o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, que estará ao lado do tucano no palco montado na festa de hoje em São Paulo. Presidente nacional do Solidariedade, único partido até agora que já declarou apoio a Aécio Neves, o deputado federal Paulinho da Força se mostra preocupado com o discurso do aliado.

“Estamos discutindo o programa. Vamos convencê-lo de que isso é um erro. Somos contra a flexibilização em todos o setores, inclusive no turismo”, diz o dirigente. Ainda segundo Paulinho, a flexibilização “seria o caos” para os trabalhadores do setor. “O turismo não tem muita organização. Eles perderiam direitos”, diz.

A divergência ocorre no momento que o Solidariedade sonha em indicar o candidato a vice na chapa do senador tucano. O nome da sigla para a “missão” já foi escolhido. “Indicamos o Miguel Torres, presidente da Força”, diz Paulinho. A tendência de Aécio, porém, é ter um vice do próprio PSDB, de preferência de São Paulo, maior colégio eleitoral do País.

Oportunidade

A contradição entre Aécio e seus aliados sindicalistas foi vista pelos aliados de Campos como uma janela de oportunidade para delimitar terreno. “É inegável que ele (Aécio) está mais à direita que a gente. Na hora da bifurcação entre PT e PSDB, o PT sempre empurra a pecha de que os tucanos defendem os ricos. Com a gente isso não pega”, afirma o deputado Márcio França, presidente do PSB paulista e um dos mais frequentes interlocutores do ex-governador. Ex-secretário de Turismo do governo Geraldo Alckmin (PSDB), ele diz ser contra a flexiblização até mesmo no setor. “Não defendemos flexibilização em lugar nenhum”.

Questionado ontem sobre as propostas de Aécio, Campos respondeu em encontro partidário em São Paulo. “Vamos abordar a causa trabalhista com diálogo, como sempre fizemos. Sempre dialoguei muito com o movimento sindical. Imagine se a gente vai começar uma agenda para melhorar o Brasil pensando em subtrair os direitos dos trabalhadores”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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