O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) disse ontem que já descartou qualquer possiblidade de ele renunciar ao mandato parlamentar. Cunha está entre os 13 parlamentares contra quem o Conselho de Ética poderá abrir processo por quebra de decoro. Depois de aberto o processo, nenhum deputado pode renunciar para se livrar da perda do direito de concorrer às eleições durante oito anos.
"A minha decisão é não renunciar. Cada deputado avalia a sua situação. Eu estou supertranqüilo para enfrentar o processo", disse o ex-presidente da Câmara, cuja mulher sacou R$ 50 mil da conta do empresário Marcos Valério no Banco Rural, em Brasília. "O dinheiro era do partido. Apresentei declaração do tesoureiro dizendo que ele indicou o lugar e o valor. Mostrei o trabalho realizado com aquele dinheiro. Por que eu preciso tomar pena por causa disso?", indagou João Paulo.
O deputado João Magno (PT-MG), outro petista acusado de envolvimento no esquema de "mensalão", também afirmou que não renunciará ao mandato para assegurar os direitos políticos e a possibilidade de se candidatar nas próximas eleições. "Jamais irei renunciar. Confio no senso de justiça da Câmara dos Deputados. Não cometi nenhuma quebra de decoro parlamentar. Nada me faz renunciar", declarou. De acordo com o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista dos Correios, Magno teria se beneficiado de retiradas de dinheiro de contas do empresário Marco Valério Fernandes de Souza: R$ 350 mil para a campanha municipal em Ipatinga (MG) e R$ 126 mil para a de deputado. O deputado do PT de Minas Gerais afirmou que é "pobre" e que pagou as contas das campanhas eleitorais. "Pobre estou, e a única coisa que não admito perder é minha honra", declarou.
Magno negou que haja uma movimentação no partido em favor de uma renúncia coletiva dos sete petistas acusados. O deputado do PT disse que ninguém o procurou no fim de semana para falar sobre esse tipo de assunto.
Na semana passada, a Corregedoria da Câmara aprovou parecer favorável à abertura de processos de cassação contra deputados citados no relatório das comissões parlamentares mistas de inquérito dos Correios e da Compra de Votos. A sugestão da corregedoria agora aguarda análise da mesa da câmara, que se reúne hoje. Caso a mesa concorde com a recomendação da corregedoria, as representações serão enviadas ao Conselho de Ética para abertura de processo.
Na realidade, os deputados federais petistas estão entre a cruz e a espada. Se renunciarem ao mandato para não perder os direitos políticos, além de sinalizar que eram culpados, eles podem não conseguir legenda o ano que vem para disputar novamente a eleição pelo partido.