A negociação do Planalto com a cúpula do Congresso para a indicação de políticos que possam ocupar os novos ministérios das Cidades e da Integração Nacional provocou um racha no MDB e dividiu ainda mais potenciais aliados do governo. Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha cedido aos apelos para recriar as duas pastas e extinguir o Ministério do Desenvolvimento Regional, líderes de partidos do Centrão não gostaram de saber que os nomes dos titulares serão escolhidos pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), ambos do DEM.
O governo deu sinais de que prefere um nome do MDB para Integração. Desde então, Alcolumbre foi procurado por vários parlamentares e há uma acirrada disputa no partido pela vaga. Uma ala quer emplacar o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que é relator da medida provisória sobre a reforma administrativa. Líder do governo no Senado, Bezerra Coelho já comandou a pasta no primeiro mandato da então presidente Dilma Rousseff, de 2011 a 2013.
Na outra ponta há um grupo que articula a indicação da senadora Simone Tebet (MS). Ela renunciou à candidatura para apoiar Alcolumbre na eleição do comando da Casa contra Renan Calheiros (AL). O gesto foi visto com simpatia pelo Planalto.
“O MDB não está pleiteando nem vai indicar ninguém”, disse o ex-senador Romero Jucá (RR), presidente do partido. “Não participaremos dessa discussão, que é conduzida pelo Davi.”
O próprio Jucá, porém, enfrenta “fogo amigo” nas fileiras do partido. Em conversas reservadas, seus colegas dizem que ele “trabalha” para ser ministro, com o objetivo de obter foro privilegiado, uma vez que é alvo da Lava Jato. “Eu quero distância de ministério”, reagiu o ex-senador. “Isso não existe.”
A reportagem apurou que Maia avalizou Alexandre Baldy (PP), atual secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, para Cidades, ministério que o ex-deputado já comandou no governo Temer. Pressionado por seus pares, Alcolumbre afirmou, à noite, que não indicará o titular da Integração. “O que nós dissemos é que esse novo modelo estava travando muitas coisas, como o Minha Casa Minha Vida. Em virtude dessa sobreposição, Câmara e Senado sinalizaram a possibilidade de retomar o modelo antigo”, argumentou ele.
Na tentativa de evitar mais desgastes, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que a intenção do Planalto é manter o atual ministro do Desenvolvimento, Gustavo Canuto, na Integração. Canuto é um técnico, sem filiação partidária. O Ministério da Economia informou que o impacto da recriação das pastas de Cidades e da Integração será compensado pela extinção de 17 cargos do grupo Direção e Assessoramento Superiores (DAS), que estão vagos.
Redesenho
A polêmica ocorre no rastro da discussão da Medida Provisória 870, que trata da reforma administrativa, com a redução de 29 para 22 ministérios. A votação foi adiada para esta quinta-feira, 9, depois que a sessão da comissão mista do Congresso para analisar o tema foi suspensa, escancarando a resistência dos parlamentares com o novo desenho da Esplanada.
Além disso, o Centrão se juntou à oposição e quer devolver o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à equipe econômica, retirando poderes do ministro da Justiça, Sérgio Moro. “Quer dizer que, se o Moro deixar de ser ministro, vai acabar o combate à corrupção no Brasil?”, provocou o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL). Se a MP não for aprovada até 3 de junho, a configuração da Esplanada volta a ser como era na gestão Temer.
Baldy e o ex-ministro Gilberto Kassab são os nomes preferidos da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para assumir Cidades. Representantes dos prefeitos fizeram os nomes chegarem a Maia, responsável por negociar com o governo. O Minha Casa Minha Vida, considerado vitrine em gestões petistas, deve retornar para Cidades. “Lá atrás, tentamos explicar para o governo a complexidade dos assuntos que estavam se fundindo”, disse o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), presidente da FNP. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.