Anunciada como uma prévia do Fórum Social Mundial, que será realizado em Salvador em março, a Ação Global Anti-Davos em Porto Alegre se transformou num grande ato em defesa do direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer à Presidência. Lideranças de partidos de esquerda e movimentos sociais aproveitaram o espaço para fazer discursos de convocação da militância para apoiar o ex-presidente.
A crítica ao Judiciário na condução do processo que investiga Lula foi generalizada. O senador Roberto Requião (MDB-PR) abriu a rodada de discursos arrancando gritos de “fora, Temer” do auditório lotado na Assembleia Legislativa.
“Saudei em prosa e verso o começo da Operação Lava Jato, até o momento em que percebemos que o foco não era a corrupção”, alfinetou.
A presidente da União Nacional dos Estudantes, Marianna Dias, destacou a transferência simbólica da sede da entidade para Porto Alegre no período em que o País vive, segundo ela, um “estado de exceção”.
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, criticou a decisão da Justiça em São Paulo de proibir a concentração dos apoiadores de Lula na Avenida Paulista durante o julgamento do ex-presidente nesta quarta-feira, e prometeu marcha até o local, à revelia da decisão judicial.
“Se eles fecham a porta, vamos ter que ter força para arrombar essa porta”, convocou.
A deputada federal Alice Portugal (PCdoB/BA) manteve o tom de convocação e crítica ao processo contra Lula, que seria uma continuação do que ela chamou de “golpe maldito”.
Ex-ministro de Lula, Jacques Wagner adotou um tom mais irônico e chegou a arrancar risos da plateia: “O Judiciário passou a ser líder da torcida organizada que tenta fazer o time deles ganhar querendo que o nosso não entre em campo”. Disse ainda que o Brasil não tem elite, tem apenas ricos, porque para serem considerados elite precisariam “pensar o País”.
Pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, falou Eliane Moura, que se referiu ao fórum de Davos como o “encontro dos podres de ricos” e convocou a classe trabalhadora a se organizar e estudar as bases da luta política.
O senador Paulo Paim (PT-RS) destacou a falta de provas contra Lula e inflou os presentes ao mencionar a possibilidade de que a presidente cassada Dilma Rousseff pode se lançar como candidata a um cargo parlamentar nas próximas eleições, arrancando gritos de “volta, Dilma”.
A última da bancada política a falar foi Manuela D’Ávila, pré-candidata a presidente pelo PCdoB. “O juízo político se dá nas urnas e é a esse juízo ao qual Lula deve ser submetido”, defendeu.
Ao término das manifestações políticas, restou ao professor da Universidade de Coimbra Antonio Nunes fazer um pronunciamento de não mais do que cinco minutos, o suficiente para mencionar o avanço de partidos “fascistas” pela Europa e ainda se referir ao caso do reitor da UFSC, que se suicidou após ser afastado do cargo por suspeitas de corrupção, como uma “manifestação fascista” no Brasil.
O evento terminou com a saudação final de Gilberto Leal, membro do grupo facilitador do Fórum Social Mundial. Após, os presentes saíram em marcha até a “esquina democrática”, no centro de Porto Alegre, onde se uniram a outros apoiadores de Lula para aguardar a chegada do ex-presidente.