Após anunciar que deixaria a liderança do PT no Senado, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) subiu à tribuna do plenário hoje para dizer que ficará no cargo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um encontro entre os dois ocorreu ontem à noite, no Palácio do Planalto, e, segundo o senador, eles conversaram por cerca de cinco horas. Durante o discurso, Mercadante leu uma carta que recebeu de Lula, e anunciou: “Não tenho como dizer não para o presidente, como não tive como dizer muitas vezes.”

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O petista também justificou o recuo dizendo que outras lideranças do partido o procuraram pedindo para que não deixasse a liderança da sigla. O senador disse ter recebido ligações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do deputado Antônio Palocci (PT-SP) e também relatou um encontro com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Todos eles, de acordo com parlamentar, apelaram para que ele voltasse atrás na sua decisão de deixar o cargo.

O senador explicou que queria deixar a liderança do PT porque se sente “frustrado” com a decisão do Conselho de Ética do Senado de arquivar todas as ações que foram movidas contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Mercante defendia que a bancada votasse pela abertura de processo, mas, por orientação do presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), os senadores petistas ajudaram a arquivar as ações.

“Depois da decisão do Conselho de Ética fiz uma breve reunião com a minha bancada e disse: ‘Minha vontade neste momento é deixar a liderança’. Deixar porque nos não tivemos força para construir um caminho alternativo, não conseguimos porque esbarramos no PMDB, esbarramos no apoio que a direção do meu partido deu a esta resposta que foi dada, o arquivamento das ações, e esta não era a posição da minha bancada”, disse ele, no discurso. Mercadante avaliou ainda que tanto o governo quanto seu partido e o Senado erraram no episódio. “Quero discutir os caminhos do partido porque não podemos cometer os erros que temos cometido.”

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Família

Ele contou que depois da reunião da bancada foi para sua casa e conversou com esposa e filhos. Um deles, disse o líder, falou: “‘Pai, deixa de fazer tanto sacrifício. Você tem pago um preço alto demais. Está ficando muito caro esse preço pessoal’.” Na avaliação do parlamentar, “o custo pessoal nesta hora é o custo político que estamos pagando por uma aliança”. E concluiu: “Vou terminar com uma frase: ‘O erro dos homens pode ser porta-voz de novas descobertas’. Esta Casa errou, meu governo errou, meu partido errou, nós erramos e eu errei, porque essa não é a solução que o Brasil precisa.”

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Mercadante fez o anúncio para um plenário vazio, com apenas cinco senadores: Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro Simon (PMDB-RS), Mão Santa (PMDB-PI), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Augusto Botelho (RR), o único petista presente à sessão. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) aguardou a chegada do líder até por volta das 10 horas, mas, atrasado para viajar a São Paulo, deixou o Senado sem ouvir o pronunciamento do colega.