A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse hoje que as boas relações diplomáticas entre Brasil e Irã não significam que o País endossa as teses do presidente Mahmoud Ahmadinejad, tais como a negação do holocausto. A ex-ministra fez a afirmação após se reunir na capital paulista com integrantes da Confederação Israelita do Brasil (Conib).
Dilma foi enfática ao chamar o holocausto de “barbárie” e aproveitou o momento para dizer que tem uma avó que, provavelmente, era judia. “Nem eu nem o governo Lula nem o presidente achamos admissível a negação do holocausto. Ele ocorreu e as provas são contundentes. Não é admissível a volta daquela barbárie em qualquer período histórico”, afirmou.
Porém, Dilma disse não concordar com a estratégia do isolamento e da guerra contra países com os quais existem divergências. “A melhor estratégia não é a guerra nem o isolamento. Não é tentar resolver pela forma como foi resolvida com Iraque e Afeganistão”, afirmou.
Ela destacou ainda que sua relação com Ahmadinejad “não é pessoal”. “A relação com o Irã busca a paz”, afirmou. “Nós somos um povo pacífico e devemos sistematicamente defender isso. Não significa que aprovemos a negação do holocausto nem a utilização de métodos bárbaros do apedrejamento de uma mulher”, explicou. Questionada sobre sua opinião em relação ao conflito entre Israel e a Palestina, Dilma disse que as duas nações têm direito a ter um Estado e a viver em paz.
Sobre sua avó, Dilma contou que ela usava o sobrenome Coimbra, uma indicação de que poderia ser uma judia que adotou o Brasil para viver e que mudou de sobrenome ao chegar. “Eu imagino que minha avó fosse judia porque ela se chamava Coimbra, era de origem portuguesa e acho que ela tinha todos os traços”, afirmou. “Pelas características físicas, acho que era uma cristã-nova.”
Orgulho
Após o encontro, o presidente da Conib, Claudio Luiz Lottenberg, afirmou que Dilma comentou o fato de provavelmente ter origem judia com orgulho. Sobre as relações entre Brasil e Irã e o conflito entre Israel e Palestina, Lottenberg disse ter ficado satisfeito com o posicionamento da candidata. “Ela foi muito objetiva, muito séria e consistente”, afirmou. “Ela pediu que nós entendamos, enquanto brasileiros, que dentro de uma estrutura de Estado estas relações são normais”, disse, a respeito de Ahmadinejad.
De acordo com ele, os temas relacionados à política externa dominaram as discussões com a candidata. “Ela disse que não nutria nenhum tipo de simpatia em relação à postura do presidente do Irã, mas que efetivamente o relacionamento com o Irã deve existir e, portanto, dentro de um contexto internacional, isso é parte da atividade dela enquanto foi ministra do governo Lula. Agora, se for eleita, a relação será sem qualquer tipo de proximidade com o presidente do Irã”, disse Lottenberg.
Já sobre a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação a Ahmadinejad, Lottenberg foi mais crítico. “O presidente é um indivíduo que habitualmente quebra protocolos e que permite aproximações. Ele é uma pessoa naturalmente envolvente e sem grande atividade protocolar. Não sei se isso dá para confundir com amizade”, disse.
“A gente acha que presidente Lula tem cacife político e credibilidade internacional para pressionar de maneira pública o presidente do Irã. Mas não acredito que ele tenha uma admiração de caráter pessoal (por Ahmadinejad) e que ele o apoie de maneira pessoal”, afirmou.