Os eleitores brasileiros vão às urnas exatamente dentro de um mês, no dia 1.º de outubro, para escolher deputados, senadores, governadores e presidente da República. Representantes do povo no Legislativo e no Executivo que, em muitos casos, a população vota, mas não acredita. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) revela que 87% dos eleitores não confiam nos seus representantes e governantes.
O levantamento, realizado em junho no Distrito Federal, destaca que a desconfiança é maior com relação aos deputados: 80,3% dos 593 eleitores entrevistados não acreditam neles. A parcela dos que desconfiam dos senadores é menor: 70%. Os descrentes com o governo são 60,5%. Enquanto isso, 73% não confiam nos partidos e quase metade, 49,4%, acha que a Justiça não merece crédito.
Segundo o coordenador do estudo, o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, Ricardo Caldas, é preciso lembrar que a falta de confiança nos políticos não é recente. ?A classe política vem se distanciando da sociedade há algum tempo, desde o movimento por eleições diretas (em 1984). Isso foi agravado pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, e não parou de crescer?, diz ele. ?Com as denúncias de corrupção do ano passado e deste ano, a gente chegou ao fundo do poço.?
De acordo com o professor, o eleitorado não se sente representado e muitas vezes não distingue entre bons e maus políticos. ?A população tem dificuldade para separar qual o político correto, que atua, que trabalha, e qual é o político oportunista, picareta, que só está se aproveitando da situação para benefício próprio.?
Caldas acredita que, em função disso, muitos eleitores vão abrir mão do voto. ?Pode haver alto índice de abstenção, votos brancos e votos nulos?, diz. Ele também prevê que a renovação do Congresso, que tradicionalmente fica em torno dos 40%, pode chegar este ano a 60%.
O cientista acredita que, de modo geral, a opinião do brasiliense expressa a avaliação média do brasileiro sobre os políticos. ?A pesquisa, em termos gerais, reflete a opinião do eleitor em todo o país, o que se pode confirmar por outras pesquisas sobre o mesmo assunto.?
O assessor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar Marcos Verlaine faz estimativa semelhante. Os dois analistas alertam que a renovação não significa necessariamente sinônimo de qualidade. Basta lembrar que 24 dos 69 deputados acusados até agora de envolvimento com o escândalo dos ?sanguessugas? estão no primeiro mandato.
?A renovação é boa porque renovar é bom, mas muitas vezes os novos políticos não têm compromisso com a vida pública, com a sociedade?, diz Verlaine. ?A renovação nem sempre aponta para o melhor caminho.?
Promessas
Os deputados estão entre os políticos nos quais os eleitores menos acreditam. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), 80,3% dos 593 eleitores entrevistados no Distrito Federal não confiam nos próprios representantes nas assembléias legislativas e Câmara Federal. Com relação aos senadores, esse índice é 10 pontos percentuais menor.
Para os especialistas, além da decepção com esquemas de corrupção, o eleitorado também enfrenta dificuldades para entender as funções de um deputado. Durante a campanha, os candidatos ao cargo costumam fazer promessas que não podem cumprir e que acabam por gerar falsas expectativas entre os eleitores.
Integrante de uma associação de moradores de bairro em Sobradinho (DF), o segurança Liomar Gomes de Souza conta que a entidade costuma enviar pedidos de melhorias à Câmara Legislativa, mas que na maioria das vezes eles não saem do papel. ?A gente se reúne, aprova, manda para a Câmara para gerar lei, mas não sai. Lá (no bairro Canela de Emas, em Sobradinho) não tem água, o asfalto é pouco?, reclama Souza.
A consultora da Câmara Legislativa do Distrito Federal Ana Cristina Resende explica que os deputados, na verdade, pouco podem fazer para melhorar os bairros. A maioria das obras depende de iniciativa do governador.
?O deputado pode fazer sugestões. Instalação de quebra-molas, passarelas, reforma de escolas, hospitais, construção de delegacias, por exemplo, são atividades típicas do executivo e não necessariamente tem de ter projeto de lei sobre isso.?