Indústrias de países da Europa e da Ásia, além dos Estados Unidos, estão interessadas em instalar no Brasil fábricas de semicondutores, matéria-prima dos microcircuitos, ou "chips", utilizados em equipamentos eletrônicos. "Como são negociações que ainda estão em andamento, é um pouco prematuro anunciá-las. Mas são fabricantes europeus, norte-americanos e asiáticos", antecipou Henrique de Oliveira Miguel, coordenador de Microeletrônica do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Segundo ele, o número de consultas feitas por fabricantes estrangeiros ao governo brasileiro aumentou com o lançamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, em março de 2004. A implantação da televisão digital no Brasil aqueceu ainda mais as discussões sobre a produção de semicondutores no país.
Interessados em fornecer tecnologia de TV digital ao Brasil, tanto japoneses quanto europeus têm apresentado como uma das possibilidades de vantagens advindas da opção por um dos sistemas (são três, com o americano) o estudo sobre a possível produção de semicondutores no país.
A instalação desse tipo de indústria no país é almejada há tempos pelo país. O Brasil não produz microchips, usados em computadores, celulares e de televisores, por exemplo. Por isso, desembolsa cerca de US$ 2,5 bilhões por ano só com a importação de microchips, quase metade de um total de aproximadamente US$ 5,2 bilhões gastos na compra de equipamentos e componentes eletrônicos em geral.
Pelos cálculos do Ministério da Ciência e Tecnologia, a produção de chips no país representaria uma economia de cerca de US$ 2,7 bilhões na balança comercial. Isso sem contar que, além de deixar de importar, o Brasil também poderia vender para o mercado mundial de microcircuitos. Nos últimos 25 anos, o setor registrou um crescimento anual médio de 13,5%. Em 2005, esse mercado movimentou US$ 226 bilhões, contra US$ 140 bilhões em 2002.
"O Brasil perdeu algumas oportunidades nas duas últimas décadas, mas recentemente a gente tem observado uma mudança tecnológica que poderá levar a novas oportunidades", destaca o coordenador. Segundo ele, um dos avanços mais significativos foi a inauguração, no dia 8 deste mês, do primeiro investimento produtivo no Brasil nos últimos 25 anos, por uma empresa norte-americana.
A unidade, localizada no município de Atibaia (SP), será destinada a uma das fases finais de produção dos microchips, chamada de encapsulamento e teste de memória. "É um investimento da fase final de produção, mas é o caminho que todos os países seguiram para deter todo o ciclo de fabricação", ressalta Miguel.
De acordo com ele, o país precisa tomar algumas medidas para atrair mais investimentos estrangeiros nessa área. "Seriam medidas relacionadas principalmente à formação de recursos humanos e à superação de determinadas lacunas estruturais, relacionadas à logística, por exemplo". Segundo ele, a maior parte dos países com produção de semicondutores "ofereceu e continuam a oferecer uma cota de incentivos e benefícios para a atração e manutenção dessas indústrias no seu país".
Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, informou que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, criou um grupo técnico para estudar a produção local de componentes eletrônicos para TV digital.