Na democracia, votando livremente, o povo pode se enganar. Mais provável que seja enganado por partidos oportunistas ou candidatos despreparados, aproveitadores ou malandros. Mesmo assim, não se conhece melhor sistema de governo e seu sucedâneo tem sido as ditaduras. A melhor das ditaduras tem se revelado pior que a pior das democracias. Deve-se considerar, também, que quando fracassa a política, sucede-se a violência. No plano interno, através de revoluções; no plano internacional, via guerras. Entende-se, em especial nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde se multiplicam e parece que se eternizam as carências do povo, que este esteja desiludido com a política. Melhor diríamos, com os políticos.
Essa sensação de frustração muitas vezes leva à revolta. Tende a generalizar, considerando todos os políticos incompetentes e corruptos, mal-intencionados e despreparados, oportunistas e malandros. Aqui no Brasil, isso não é regra, mas exceção. Exceção tão eloqüente que chega a nos convencer que é regra geral, embora possamos sempre pinçar, nos quadros políticos, homens bons, verdadeiramente interessados em promover o bem público.
Antes de mais nada, temos de entender que a democracia é um processo. Está em permanente evolução e aperfeiçoamento e, na medida em que se promovem reformas políticas que atingem os partidos, sua organização e forma de funcionamento; que tratem da seleção rigorosa de candidatos e regras severas para realização dos pleitos, a democracia progride rumo não à perfeição, que é inalcançável, mas a formas mais satisfatórias. As eleições são a base desse processo, pois é através delas que escolhemos nossos governantes, executivos e legisladores. Sua periodicidade permite o aperfeiçoamento do processo seletivo, o povo não mais elegendo os que não corresponderam às suas expectativas e escolhendo aqueles que bem trabalharam ou que apresentam, no campo das idéias e mesmo em experiências passadas, perfis que os credenciam a ocupar os cargos para os quais se candidatam. Os partidos e sistemas de governo assim também são selecionados.
O povo tem o governo que merece. Forma de expressão, pois na verdade tem o governo que lhe pareceu ser o melhor. Mas pode ter sido enganado. De qualquer forma, os governos eleitos são a expressão da vontade popular, talvez viciada pelos maus políticos e suas pregações mentirosas e demagógicas. A educação do povo para a democracia é imprescindível para que aperfeiçoe o processo de escolha e adquira um nível de exigências cada vez mais rigoroso. A política, que muitos abominam por entendê-la o reflexo daquilo que fazem os maus políticos, é na verdade um processo necessário e as eleições, que a caracterizam nas democracias, a mais respeitável de suas instituições, porque colhem a vontade dos cidadãos.
Hoje é dia de eleições. Muitos estarão tentados a não ir às urnas ou a votar displicentemente, já que em tantas outras ocasiões sofreram. A omissão e o voto irresponsável chancelam a má política e entravam o desenvolvimento democrático. É preciso lembrar-nos das frases irônicas de Millôr Fernandes, que disse: A vantagem da democracia é que qualquer um pode chegar à Presidência da República. A desvantagem é que “um qualquer” pode chegar lá. Nossa responsabilidade: eleger os melhores, antes examinando atenta e conscientemente para saber quais são efetivamente os melhores.