Porto Príncipe (Haiti) – Três policiais militares brasileiros estão participando como conselheiros técnicos na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah). Eles se juntam a um efetivo de cerca de 1,8 mil policiais da ONU que trabalham em paralelo aos 7 mil militares da missão ? sendo 1,2 mil brasileiros. Seu trabalho foi menos visível na fase inicial da missão, mas tende a adquirir relevo. A reforma da polícia haitiana é considerada passo crucial na retomada do estado de direito no país.

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O capitão Ricardo Freitas, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, é um dos três brasileiros em Porto Príncipe. ?É claro que as nossas polícias também enfrentam desafios, mas nós podemos contribuir muito num país como o Haiti. Temos problemas muito parecidos, nas vilas, favelas, aqui?, diz ele. ?Outros estrangeiros chegam numa favela aqui, batem o olho e pensam que todo mundo é bandido. Nós temos que mostrar que a coisa funciona mesmo que haja miséria.?

Uma das diferenças no trabalho dos policiais é que eles não residem em bases militares no Haiti. Os profissionais residem no próprio bairro onde devem atuar, para que interajam com a comunidade. Afora as dificuldades lingüísticas ? os haitianos falam o creole, uma mistura própria de francês com línguas africanas ?, Freitas vê proximidade cultural. ?As pessoas respeitam o Brasil, isso é importante?, diz ele.

?Nós, como brasileiros, temos uma recepção muito boa, não só pelo futebol, mas também pela cultura negra, que também existe no Brasil, e isso nos abre muito as portas e as possibilidade de relacionamento?, conta ele, que é negro. ?Como nós temos experiência de trabalhar em ambientes de miséria, problemas de carência, nós temos condições de chegar e analisar o ambiente, saber quem realmente é delinqüente e saber quem é o morador que precisa do nosso serviço para bem viver, ter um mínimo de segurança, para poder trabalhar e se desenvolver.?

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As dificuldades também existem, relata ele. ?É claro que nós temos que ter muita atenção, porque muitas vezes nós somos vistos por pessoas desavisadas como tropas de ocupação, e isso não é verdade.?

Freitas conta que o trabalho junto à polícia haitiana atinge até mesmo técnicas de controle de trânsito. Um dos maiores desafios previstos para os próximos dias, conta ele, será a organização do policiamento em um show da família Marley. Os resultados já vêm aparecendo, destaca o policial.

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?Nós, ao longo desses cinco ou seis meses que estamos aqui, já vimos algum desenvolvimento, isso está comprovado nas estatísticas, referentes a prisões usando os métodos qualificados referentes aos direitos humanos, fazendo prisões dentro do procedimento legal.?

O policial acredita que também há boas perspectivas para a reforma do Judiciário, outro desafio da missão de paz. ?Os procedimentos judiciais estão sendo retomados, com mais força agora. Claro que ainda existem problemas, mas o Haiti, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, porssui uma intelectualidade muito forte, então essas pessoas estão lutando pelo seu país, para restabelecer o estado de direito, trabalhando com a parte judicial?, conta ele.

O brasileiro conta que também já viu reflexo do trabalho nesse campo nos últimos meses. ?Nas nossas últimas operações [prisões de suspeitos], fomos cobrados pela Justiça, para saber onde estavam as armas, as provas, todos os elementos para que tudo seja feito dentro da lei, dentro do que prevê a Constituição. Isso não era feito e agora está se retomando. Todas as atividades da Minustah são feitas dentro do procedimento legal.?

O tenente Sérgio Carrera, da PM do Distrito Federal, outro dos brasileiros no Haiti, lembra que país teve, nas últimas décadas, uma polícia que era associada a ditaduras, por isso há muita dificuldade em retomar a confiança da população. ?Aqui, ainda, a polícia chega numa comunidade, as pessoas correm em pânico, porque antigamente, quando a polícia chegava, era para matar.?

Já Freitas reconhece que a polícia brasileira também tem problemas, como a corrupção. ?Em todos os lugares, há diferentes níveis de corrupção. Nenhum país aqui pode dizer que é perfeito, mas hoje no Brasil há mais controle da comunidade civil, uma legislação melhor?, defende. ?O policial brasileiro atende mais de 1 milhão de ocorrências por ano. A porcentagem de reclamações é mínima.?