Polícia tem dois suspeitos do seqüestro de jornalista

A polícia identificou dois suspeitos de participação no seqüestro do jornalista Guilherme Portanova. Um deles seria um ex-presidiário ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O repórter da TV Globo passou por três cativeiros na zona sul. Ficou amarrado em todos eles e com os olhos vendados – primeiro por um blusão vermelho e, depois, por óculos com lentes cobertas por fita isolante. O repórter foi libertado à 1 hora de ontem, após 42 horas de cativeiro.

A emissora havia cedido à exigência da facção para soltá-lo, exibindo à 0h28 de domingo um vídeo da facção de três minutos. A transmissão alcançou 20 pontos no Ibope na Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 54.500 domicílios.

Policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) crêem que Carlos Antônio da Silva, de 28 anos, o Balengo ou B.L., está envolvido no crime. B.L. é o principal líder do PCC em liberdade. Além dele, outras dez pessoas participaram do crime, inclusive gente que não sabia quem era Portanova, de 30 anos, ou a razão de seu seqüestro.

Um deles era o carcereiro que tomou conta do jornalista no segundo cativeiro, uma casa para onde Portanova foi levado após a libertação do assistente técnico Alexandre Coelho Calado. "Você tá aqui por quê? Você é cagüeta, mano, tá devendo pro tráfico, meu?", perguntou o carcereiro a Portanova. Quando ele respondeu que era repórter e trabalhava na Globo, o bandido não acreditou. "E eu sou Papai Noel." Só depois, quando chegou outro seqüestrador, é que o carcereiro foi informado pelo comparsa de que Portanova estava ali por causa do "vídeo que tem de passar na TV".

Plano

O jornalista não foi agredido. Os bandidos planejavam seqüestrar dois apresentadores da TV Globo. Como não encontraram os dois, resolveram levar a primeira equipe da Globo que encontrassem. Sabiam que os jornalistas da emissora freqüentavam uma padaria perto da sede da Globo. Foi lá que apanharam Portanova e Calado.

O repórter teve os pés e mãos amarrados no primeiro cativeiro, uma casa que fica próxima da Avenida Interlagos, na zona sul. Na ida para o segundo cativeiro, os criminosos levaram Portanova em um carro. Ele ficou nessa casa por algumas horas até que foi transferido para um terceiro lugar. Desta vez, o jornalista foi levado a pé até o lugar. Para que ele não identificasse o caminho, os bandidos mandaram-no pôr óculos escuros com a lente coberta.

Nesse lugar, Portanova foi obrigado a ficar só com as pernas amarradas. O repórter ouvia sons de pássaros e de um rio. De repente, ouviu uma movimentação no lugar. Foi quando os seqüestradores lhe disseram que ele seria libertado. Portanova foi posto no porta-malas de um carro e levado ao Morumbi.

Depoimento 

Portanova prestou depoimento ontem no Deic durante três horas. Na madrugada de ontem, ele deu uma entrevista na sede da TV Globo. "Eu estou bem de saúde, estou legal, ninguém me agrediu e fui alimentado nesse tempo todo", disse. O repórter estava descontraído e já falava em voltar ao trabalho. "Queria agradecer a solidariedade. O pessoal falou que vocês estavam bem apreensivos aí. Isso aí é que faz a gente ter vontade de continuar trabalhando, porque a galera é unida e se ajuda.

Portanova disse que não viu o rosto dos seqüestradores, que fizeram muita pressão para que fosse exibido o vídeo do comunicado do PCC. "Falavam que eles queriam ver a reivindicação deles no ar e, se a reivindicação deles não estivesse no ar, eles poderiam tomar outras medidas." O repórter acha que decidiram libertá-lo após a exibição do Fantástico. "Ali, eles sentiram que talvez estivesse completo o serviço deles.

Segundo o diretor de Jornalismo da Globo em São Paulo, Luiz Cláudio Latgé, Portanova foi libertado à 1 hora no Morumbi. Ele abordou o carro de uma empresa de segurança da região e pediu ajuda. Avisou a emissora e foi levado até lá. "Ele chegou assustado e sem camisa. Estava incomodado com uns arranhões e picadas de inseto." Latgé acha difícil ocorrerem novos seqüestros de jornalistas, mas disse que "a escalada de violência é imprevisível".

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