Brasília – Os turistas que viajarem de férias neste fim de ano terão de tomar um cuidado redobrado: além das chuvas, das estradas esburacadas e da costumeira imprudência dos motoristas brasileiros, haverá um volume muito grande de caminhões, carretas e outros veículos pesados nas estradas, sobretudo as litorâneas, por causa da proximidade dos portos. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), este movimento vai aumentar em razão da safra recorde de grãos. O risco também será grande nas proximidades de grandes áreas produtoras, por causa do movimento de tratores e veículos agrícolas.
Os 2 milhões de veículos pesados somam apenas 5% da frota de quase 40 milhões de carros que circulam no País. Mas são responsáveis por cerca de 15% dos acidentes nas estradas. Outro agravante: a letalidade dos acidentes com veículos pesados é 50% maior do que quando envolve apenas carros de passeio. Nessa época do ano, a combinação de colheita e transporte de safra com o grande movimento de veículos de passeio, tem resultado numa carnificina anunciada.
Nas férias do verão passado, ocorreram 25.288 acidentes, com 15.850 feridos e 1.524 mortos nos 65 mil quilômetros de estradas federais. A média foi de 300 acidentes com 200 feridos e 19 mortos por dia. Este ano, as estradas e o clima estão piores e haverá 10% mais veículos pesados circulando.
Para enfrentar esse quadro adverso, a PRF colocou todo o seu efetivo de 9 mil homens na Operação Verão, que começou ontem e se estenderá até o dia 5 de março próximo. Maior evento do calendário anual do órgão, a operação centrará atenção nas rodovias de maior movimento, com ações de fiscalização, orientação e punição de motoristas infratores.
Estudos da PRF mostram que no período das festas de fim de ano e férias escolares sobe consideravelmente o número de acidentes nas estradas, sobretudo as de acesso ao litoral e estâncias turísticas. Como nos anos anteriores, a imprudência dos motoristas, reforçada por falta de atenção e excesso de velocidade, foi a campeã entre as causas de acidentes no verão passado.
A safra agrícola de 2005, conforme estimativa da Conab, deve alcançar 124,9 milhões de toneladas, 10% superior à do ano anterior. "Até chegar aos portos, a quase totalidade dessa carga escoa por rodovias estaduais e federais", lembra o diretor-geral da PRF, Hélio Derene. As fortes chuvas que castigam as regiões Centro-Oeste e Sudeste devem tornar as rodovias ainda mais perigosas, segundo ele.
O diretor informou que a PRF vai combater com rigor o excesso de velocidade nos principais corredores viários do País. Nos trechos mais críticos, serão usados radares estáticos e móveis. Em São Paulo, o órgão vai inaugurar a sua base de operações aéreas com um helicóptero adaptado para resgates médicos. Inicialmente, a base será usada para atender vítimas de acidentes nas rodovias Presidente Dutra, Régis Bittencourt e Fernão Dias.
Nas regiões Nordeste e Sudeste, principais focos do problema de roubo de cargas e assalto a ônibus, a PRF empregará sua unidade na varredura das rodovias, com apoio aéreo e informações do serviço de inteligência.
Os estados que habitualmente compõem o ranking sombrio de maiores detentores de acidentes são, pela ordem: Minas Gerais, que tem a maior malha viária do País e Santa Catarina, devido ao grande número de veranistas, inclusive os turistas oriundos dos países do Cone Sul. A seguir, vêm o Rio de Janeiro, cortado por rodovias problemáticas como a Presidente Dutra, a Rio/Santos e a Rio/Campos). São Paulo vem em quinto lugar, depois do Rio Grande do Sul. Paraná e Bahia também integram a lista dos Estados com grande índice de acidentes.
Outro motivo de preocupação da PRF é o índice de ocupação por veículo, maior do que no trânsito urbano. Enquanto nas cidades o veículo traz, geralmente, o motorista e mais um passageiro, nas estradas, os automóveis circulam com três ou quatro ocupantes. Os acidentes em pista simples ocorrem, em sua maioria, nas ultrapassagens indevidas. Em pistas duplas e múltiplas, pelo excesso de velocidade. Este ano, um motorista gaúcho foi flagrado pelo radar fotográfico a uma velocidade de 207 quilômetros por hora.
