O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil do Paraná, desmantelou uma quadrilha internacional responsável pela clonagem de mais de 200 mil telefones celulares no Brasil. A polícia acredita que esta seja a maior quadrilha do país, responsável por pelo menos 70% das clonagens feitas nos aparelhos das operadoras nacionais.
Na cidade de Campinas, a polícia paranaense prendeu o chefe da quadrilha, Willian Wadith Zakhour, 47 anos, Mariana Ferreira Cardoso da Silva, 25, que seria amante de Willian, seu irmão Abrahão Correia da Silva Filho, 32, Rosa Soares de Oliveira Gomes e o vietnamita Tran Van Quang, 46. “As prisões foram resultado de um trabalho bem sucedido de investigação do Cope”, disse o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.
Indícios levam a polícia a acreditar que as centrais telefônicas operacionalizadas por Zakhour, em Campinas, fossem também utilizadas por criminosos organizados do mundo todo, incluindo as máfias russa e vietnamita. “Agora, a relação dos envolvidos com a quadrilha será analisada e periciada, tanto nos documentos apreendidos como nos disquetes, CD´s e computadores. Eles serão chamados para depor e serão responsabilizados criminalmente”, explica o delegado chefe do Cope, Marcus Vinícius Michelotto, que coordenou o trabalho.
As investigações começaram há três meses, depois que a operadora de telefonia celular nos estados do Paraná e Santa Catarina, TIM Sul, denunciou a suspeita de uma série de clonagens para a polícia. “Através do sistema antifraude da empresa, foi detectado o aumento no número de ligações nacionais e internacionais, fora da rotina dos clientes da operadora, o que gerou a suspeita e a denúncia que motivou a investigação”, conta Michelotto.
Centrais
O trabalho levou os policiais a seis endereços na cidade de Campinas, onde funcionavam as centrais telefônicas para a clonagem dos aparelhos. Com dezenas de mandados de prisão e busca e apreensão, uma equipe de 21 policiais e três delegados do Cope se deslocou para a cidade paulista e, com o apoio da Delegacia Anti-Seqüestro local, desmontou os escritórios e prendeu os acusados.
Nos endereços, a polícia encontrou centrais telefônicas que operam com equipamentos de última geração em informática, como notebooks e computadores, ligados a uma instalação de linhas telefônicas fixas em uma espécie de “PABX moderno”. Foi encontrado também um programa de computador que viabiliza a clonagem e que teria sido elaborado por um técnico que trabalha em uma multinacional nos Estados Unidos.
Por isso, o Cope repassou várias informações para a polícia americana que vai participar das investigações. Ainda foram encontrados “radares”, equipamentos que, instalados próximos a aeroportos, captam até dez mil números de telefones dos sistemas TDMA e CDMA e permitem o posterior uso ilegal das linhas.
Internacional
Os policiais apreenderam também agendas telefônicas, que mostram relações entre Willian Zakhour e pessoas dos EUA, Argentina, Bolívia, países do Leste Europeu, tais como Polônia, Rússia e Cazaquistão, além de países árabes, entre eles o Líbano e Kwait. “Zakhour parece ser de origem árabe, mas seu documento é brasileiro, natural do Espírito Santo e seu passaporte indica o nascimento em São José dos Pinhais (PR). No entanto, ele tem dificuldades em se expressar e entender a língua portuguesa e seu sotaque é da língua árabe”, explica Michelotto.
O setor de inteligência do Cope descobriu também que Zakhour já havia sido condenado a seis anos e três meses de prisão pela Justiça Federal de Guarapuava pelo mesmo crime, mas estava foragido. De acordo com as informações apuradas pela polícia, o faturamento do chefe da quadrilha, com as clonagens, seria de milhares de dólares por semana.
Os levantamentos da polícia paranaense também mostram que Tran Van Quang, natural da República Socialista do Vietnã, teria, na quadrilha, a função de viabilizar as ligações de clientes de países socialistas. “Sabemos que as organizações criminosas eram os principais usuários desses celulares clonados. Essa quadrilha, por exemplo, facilitava o tráfico de drogas em vários lugares do mundo”, conclui Michelotto