O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) prendeu, na manhã desta quarta-feira, em Curitiba, onze integrantes da quadrilha de skinheads, intitulada ?Frente Anti-Caos?, responsável por espalhar pela cidade adesivos preconceituosos contra homossexuais e negros. O mesmo grupo também é acusado de tentativa de homicídio, espancamentos e de cometer diversas agressões contra judeus, negros e homossexuais em Curitiba.
?Estas prisões são comemoradas porque colocamos atrás das grades criminosos repugnantes. Quando ficamos sabendo dos adesivos preconceituosos espalhados pela cidade, determinei ao Cope que tudo fosse investigado com muito rigor. A operação não teve falhas e recolheu provas suficientes nas buscas para incriminar todo o grupo?, disse Delazari. A operação para a prisão dos criminosos começou às 6h, desta quarta-feira (26) e envolveu cerca de 40 policiais do Cope, acompanhados por oito oficiais de justiça. Eles cumpriram ao todo cinco mandados de prisão e outros dez de busca e apreensão.
Entre os presos, está o acusado de ser líder da quadrilha, Eduardo Toniolo Del Segue, 25 anos, conhecido como ?Brasil?, professor de jiu-jitsu e sua esposa, Edwiges Francis Barroso, 26. ?Eles eram os nossos alvos principais e foram reconhecidos, pela manhã, por uma vítima que foi esfaqueada no Centro de Curitiba há menos de um mês. Na casa deles encontramos diversos objetos que fazem menção clara ao nazismo?, disse.
No porão da casa do casal, foi encontrada uma bandeira preta, com o símbolo 88, que remete à saudação nazista ?Heil Hitler?, já que a letra ?h? é a oitava do alfabeto. Cópias de um CD de músicas com mensagens nazistas, fitas de vídeo e fotos do casal preso em meio a grupos de skinheads também foram encontrados e apreendidos. Além deles, foram presos também Bruno Paese Fader, 20, André Lipnharski, 25, Estela Herman Heise, 20, Fernanda Keli Sens, 24, e Drahomiro Michel, 28, conhecido como ?Gavião?. Quatro adolescentes, acusados de participar do grupo, também foram apreendidos pela polícia.
?Este grupo comete ataque a judeus, homossexuais e negros praticamente toda a semana. Estamos investigando homicídios e espancamentos, em que o grupo possivelmente esteja envolvido. Não podemos deixar que se estabeleça este tipo de conduta em Curitiba?, disse o delegado chefe do Cope, Marcus Vinícius Michelotto.
Racismo
Segundo ele, todas as pessoas presas vão responder por racismo e formação de quadrilha. Edwiges e Del Segue responderão ainda por tentativa de homicídio, lesão corporal e ameaça e podem ser condenados a mais de 40 anos de prisão. Os garotos serão encaminhados para a Delegacia do Adolescente e serão punidos de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. ?Ter sua ideologia sem atingir ninguém não é crime, mas a partir do momento que se começa a agredir verbal ou fisicamente os outros e a divulgar ideologia racista, passa a crime inafiançável?, explicou o delegado.
O crime de racismo está na Constituição Federal, tipificado na Lei 7.716/89, que proíbe a discriminação de raça, cor, etnia, religião e procedência nacional. A pena pode variar de um a três anos de reclusão e multa. Quando propagada por órgãos de comunicação social, a pena sobe para dois a cinco anos. ?Existe uma comunidade pensando e defendendo essa ideologia absurda no Brasil e isso deve ser repugnado e combatido pela polícia?, disse o secretário Delazari.
Gibi
Entre os materiais apreendidos, um gibi chamou a atenção dos policiais. Feito por um dos integrantes do grupo, o material ?ressuscita? Hitler que lidera um grupo de skinheads para matar negros. No gibi, frases preconceituosas que explicitam a ideologia nazista de purificação da raça ariana como: ?queremos apenas a preservação da nossa raça e não a destruição das outras, mas se esse for o único modo, assim faremos, para a continuação da doutrina de Adolf Hitler?.
Outra frase trazia a mensagem ?precisamos nos organizar, formar partidos, entrar nas forças armadas, policiais, nos formar advogados, juízes, promotores, para sustentar o partido, com leis em prol da nossa raça, para novamente erguermos o ideal?. Quase todas as páginas do gibi trazem figuras de skinheads espancando e exterminando negros.