Pode um motorista profissional, que dirige Ômega blindado de locadora, transportar caixas – pelo menos 3 e de bom tamanho -, no porta-malas do veículo e não ver nenhuma delas, muito menos o seu conteúdo? Pode, se o motorista atende pelo nome Éder Eustáquio Macedo, funcionário do Ministério da Fazenda no Rio e personagem da intrincada história dos dólares que Cuba teria enviado para a campanha de Lula.
Durante quatro horas, das 12h20 às 16h30 de hoje (9), a CPI dos Bingos reconstituiu o trajeto das caixas que viajaram no Ômega conduzido por Macedo na tarde de 31 de julho de 2002. O resultado da apuração, que mobilizou 15 agentes da Polícia Federal, desapontou a CPI porque o motorista fez um relato vago. "É pessoa humilde, está assustado", disse o advogado Carlos Alberto Heilmann, que acompanhou a testemunha.
Mas a PF decidiu fazer um relatório pericial que permitirá o confronto da versão de Macedo com a de Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro da Fazenda Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. Poleto declarou à revista "Veja", no ano passado, que nas caixas havia US$ 3 milhões de Cuba. À CPI, disse que eram garrafas de uísque. Chamado para a diligência de hoje (9), ele não apareceu. Amparou-se em salvo conduto que o Supremo Tribunal Federal lhe deu, livrando-o de ter que fazer prova contra si mesmo. Em seu lugar, mandou um atestado médico informando que passou por uma "cirurgia bucal".
Os trabalhos foram divididos em duas etapas, a primeira no Aeroclube de Campinas, a outra na porta do Montana Grill da Avenida Faria Lima, em São Paulo. O motorista manteve o que disse à CPI. "Não vi o que era, nem as caixas." O delegado federal Luiz Gustavo Valença Góes anotou tudo. "É pouco provável que o motorista não tenha visto nada", avalia João Paulo Madruga assessor do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator da CPI. A CPI usou um Ômega preto cedido pela Locablin, do empresário Roberto Carlos Kurzweil, que em 2002 alugou 3 Ômegas blindados – a R$ 11 mil por mês cada – para o PT e que ficaram à disposição de Lula, José Dirceu e Palocci.
O motorista disse que não lembrava do lugar onde colocou o carro, há 4 anos. O delegado insistiu e ele embicou o Ômega junto a um hangar, perto de um bimotor Sêneca igual ao que trouxe Poleto e as caixas de Brasília. Ele disse que Ralf Barquete, que foi secretário de Finanças do prefeito Palocci, estava no aeroporto e pediu a ele que abrisse o porta-malas, o que fez sem sair do carro porque usou o comando automático do painel. "Fiquei no carro", reiterou. Depois, deixou Barquete e "o que presume serem as caixas" na churrascaria, em São Paulo. E levou Poleto a Congonhas.