A Polícia Federal rastreou 30 ligações entre telefones do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e os celulares de Jorge Lorenzetti, chefe do grupo de informação da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 8 e 25 de setembro, período crítico da tentativa de compra do dossiê Vedoin – que incluiu a negociação da papelada contra políticos tucanos e o estouro do escândalo. Apenas no dia 15, quando Valdebran Padilha e Gedimar Passos foram presos no Hotel Ibis, em São Paulo, com o R$ 1,75 milhão que seria destinado à compra dos documentos, foram feitas 9 chamadas.
No dia 18, quando foi divulgado o depoimento em que Gedimar informava ter sido contratado pela Executiva Nacional do PT e citava Freud Godoy, então segurança de Lula, outras seis ligações foram identificadas. Entre os dias 11 e 14 há o registro de outras sete chamadas. Nessas datas, Oswaldo Bargas e Expedito Veloso, também integrantes do comitê de campanha de Lula, se dirigiam a Cuiabá para acompanhar a divulgação do dossiê, enquanto Gedimar e Valdebran iam a São Paulo receber o dinheiro. No mesmo período, Lorenzetti trocava telefonemas com os petistas acusados de envolvimento na compra do dossiê.
O levantamento das trocas de chamadas entre o Besc e Lorenzetti integra o grupo de linhas de investigação da PF ainda sem conclusão. Ao identificar as ligações, a PF chegou a levantar a hipótese de que parte do dinheiro poderia ter vindo do banco catarinense. As chamadas podem espelhar apenas relações normais de Lorenzetti com pessoas do banco. Ele foi diretor-administrativo do Besc. Licenciou-se para ingressar na campanha de Lula e deixou o cargo em setembro, após vir à tona seu envolvimento no caso do dossiê Vedoin.
Recados – O Estado tentou ouvir Lorenzetti. A reportagem deixou dois recados nos telefones celulares que ele informou à Polícia Federal. Também deixou recado no escritório de seu advogado, Aldo de Campos Costa. No início da tarde, foi informada de que o advogado recebera a mensagem, mas havia entrado em uma reunião urgente. Em seu depoimento à PF, Lorenzetti negou envolvimento em operações financeiras relacionadas ao dossiê.
O Banco do Estado de Santa Catarina informou que não tem conhecimento, em caráter oficial, dos dados sobre as ligações recebidas de Lorenzetti. Disse que, se for notificado oficialmente pela Justiça para prestar esclarecimentos, vai identificar os usuários das linhas. O banco confirmou que Lorenzetti pediu desligamento cerca de três semanas depois que seu nome foi envolvido no escândalo.
A um mês de seu prazo de conclusão, a CPI dos Sanguessugas ouvirá hoje (21) os depoimentos de Lorenzetti, Valdebran e Gedimar. Quarta-feira, ouvirá mais duas pessoas envolvidas no escândalo: Oswaldo Bargas e Expedito Veloso. Bargas é ex-secretário do Ministério do Trabalho e atuou na campanha à reeleição de Lula. Veloso é ex-diretor de gestão de risco do Banco do Brasil.
O presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), afirmou ontem que é ?inviável? prorrogar os trabalhos da comissão até janeiro. Parlamentares do PSOL, do PV e da recém-criada Mobilização Democrática (MD) são favoráveis à prorrogação da CPI, que tem término previsto para 20 de dezembro.
O relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), anunciou que vai entregar o texto final no dia 13. A CPI também tenta hoje aprovar requerimentos de convocação do empresário Abel Pereira – ligado ao prefeito de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB), ex-ministro da Saúde – e de Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo paulista.