Polícia Federal faz devassa na administração de Dimas em Furnas

Brasília – De posse de grande volume de dados recolhidos com a quebra de sigilo fiscal e telefônico determinada pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, a Polícia Federal está concluindo uma devassa sobre os últimos oito anos de passagem do empresário Dimas Toledo como diretor da estatal Furnas Centrais Elétricas. As primeiras análises indicam que Dimas operava um esquema de cobrança de "pedágio" junto a construtoras e empresas que prestavam serviços à estatal. Parte do dinheiro era usado para financiar campanhas eleitorais com caixa 2.

O esquema, no qual estariam envolvidos três filhos de Dimas, consistia em induzir as empresas a contratarem uma "consultoria" de fachada junto a escritórios indicados por ele. Era a condição para que as empresas firmassem seus contratos com Furnas. Entre as achacadas pelo ex-diretor, conforme apurou a PF estaria a JP Engenharia, forçada a pagar R$ 700 mil por uma consultoria para obter um contrato de cerca de R$ 30 milhões com a estatal.

Dimas é investigado pela PF, a CPI dos Correios e o Ministério Público como suspeito de ser um dos abastecedores do "mensalão" e de ter operado um esquema de caixa 2 para vários partidos, inclusive a cúpula do PSDB, em eleições anteriores. Os filhos do ex-diretor (dois homens e uma mulher) serão chamados para explicar se os contratos que tinham com Furnas eram de fachada, o que configura crime. Caso eles tenham sido favorecidos com contratos verdadeiros, fica configurado delito de tráfico de influência do pai.

O lobista mineiro Nilton Monteiro, um dos que estão enviando documentos sobre o esquema de Dimas à PF, informou em depoimento que foi contratado pelo então diretor da JP Engenharia, Reinaldo Conrad, para abrir as portas de Furnas e reduzir ao máximo o valor do "pedágio" que teria de pagar por contratos. Ele alega que durante algum tempo trabalhou em sintonia com Dimas, com o qual rompeu recentemente.

Monteiro também entregou à PF uma lista com 156 nomes de políticos que teriam recebido doações de campanha com recursos de caixa 2 levantados por Dimas junto a empreiteiras e fornecedores de serviço da estatal. A autenticidade da lista ainda não foi confirmada e até agora só um dos listados, o deputado federal cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ), confessou ter recebido R$ 75 mil de Dimas. Todos os demais, ligados ao PTB PFL, PP e PL, além do PSDB negaram envolvimento.

Os dados da investigação serão cruzados, mais adiante, com a auditoria que a Controladoria-Geral da União realiza em todos os contratos de Furnas de 1998 até agora. A suspeita é de que essas empresas superfaturavam seus contratos e repassavam parte – R$ 36,5 milhões só na campanha de 2002 – para financiar candidaturas. O mesmo esquema teria sido usado, no atual governo em favor de políticos e partidos da base aliada.

Após o feriado do carnaval, a PF enviará ao Supremo Tribunal Federal (STF) o inquérito do "mensalão" e não fará menção à lista de Furnas, que está sob a competência da Justiça Federal do Rio. Embora a lista contenha os nomes de parlamentares, a Justiça, o Ministério Público e a PF não viram indícios suficientes ainda para pedir a transferência do caso Furnas para o STF, como foi feito no caso do "mensalão".

Caso as investigações e a auditoria da CGU confirmem que Dimas operava um esquema de caixa 2 em Furnas, a partir de recursos desviados da estatal, os demais integrantes da lista serão convocados para depor. No momento, a investigação está aberta a colaborações espontâneas.

A PF não estão preocupada, por enquanto, em checar a autenticidade da lista, mas em conferir se o seu conteúdo é verdadeiro e se as pessoas citadas de fato cometeram crime. "O nosso foco é o Dimas. Precisamos saber se ele operava um esquema de caixa 2 e, nesse caso, quem contribuía e quais eram os beneficiários", disse um policial que participa da investigação.

Monteiro foi quem informou à polícia, no ano passado, sobre a existência da lista e de documentos que comprovaram caixa 2 na campanha do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB) para o governo de Minas em 1998, fato que acabou se comprovando.

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