A Polícia Federal desbaratou nesta quinta-feira (22) o esquema financeiro de uma quadrilha internacional de tráfico de drogas, que usava o território brasileiro para a lavagem do dinheiro obtido com a venda de cocaína colombiana na Europa. Comandado pelo colombiano Alexander Pareja Garcia – preso em setembro em Guarulhos (SP), a pedido do Uruguai – o bando mantinha no Brasil uma empresa petroquímica com sede em São Paulo, uma transportadora de combustível em Volta Redonda (RJ), oito postos de gasolina no Rio e mais de 40 imóveis, muitos deles apartamentos de alto luxo.

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Além de decretar a prisão temporária de 11 pessoas no Brasil, pedir a prisão preventiva de outras quatro que se encontram no Uruguai e na Espanha, determinar a apreensão de sete carros, quatro deles blindados, e autorizar buscas em 11 endereços residenciais e 18 comerciais, o juiz Flávio Oliveira Lucas, da 4ª Vara Federal, determinou o bloqueio de 92 contas bancárias da quadrilha.

Segundo o delegado federal Júlio Cesar Bortolato, da Divisão de Repressão ao Crime Organizado de Brasília, em apenas uma semana a quadrilha lavou R$ 40 milhões. Já o jornal argentino La Nacion em setembro, noticiava que o grupo de Pareja era responsável pela lavagem de U$ 50 milhões nos últimos três anos, no Uruguai. Para a polícia, só a quebra do sigilo bancário destas 92 contas é que permitirá ter uma idéia do faturamento real da quadrilha.

A investigação teve início em 2005, em Londres, com a prisão do grego Angelis Vougaruis Angelopoulos, levando 120 mil Euros para o Uruguai. Ele era ligado ao grupo. Ainda em 2005, foram apreendidas 4,2 toneladas de cocaína nas Ilhas Canárias, com indícios de ligação com o grupo do colombiano. Neste mesmo ano a Polícia Federal brasileira foi acionada e passou a trabalhar em conjunto com as polícias do Uruguai, da Espanha e dos Estados Unidos.

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A idéia era fazer um trabalho conjunto, mas a polícia Uruguai se precipitou em uma operação no ano passado, quando prendeu 24 pessoas e um total de 330 quilos de cocaína, a maior apreensão de drogas daquele país. Com isto a Polícia Federal teve que apressar a prisão de Pareja, que planejava fugir.

Segundo Delci Teixeira, superintendente da Polícia Federal no Rio, Pareja comprava cocaína no cartel Vale do Norte, na Colômbia, e transportava para o Uruguai de avião. De lá, por mar remetia a droga para a Europa. Chegava a transportar até uma tonelada por mês, tendo a Espanha como porta de entrada. Lá estava o cunhado de Pareja, Henry Alejandro Rodríguez, conhecido como "El Negro", para distribuir a droga.

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O dinheiro arrecadado era remetido ao Brasil, através do Uruguai. "Como o país fomenta a entrada de capital externo para investimento, isto facilitou. Ele declarava o dinheiro como sendo investimento nas suas empresas e lavava o dinheiro em compra de imóveis, no Brasil, Espanha e Estados Unidos", explicou o delegado Victor César Santos, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF do Rio.

Segundo o delegado, foram adquiridos no Rio mais de 40 imóveis. Em Miami foram cerca de 30 apartamentos, cada um avaliado em US$ 1 milhão. Mas o dinheiro do narcotráfico também foi usado em investimento na área dos combustíveis. Pareja comprou, há cinco anos, a Delft Oil e Energy Derivados de Petróleo, com sede na Rodovia Índio Tibiriçá (SP), em Ribeirão Pires. A empresa tem filiais, no bairro Vila Ema (SP), em Porto Alegre e Rondonópolis. Em Volta Redonda, ele abriu a transportadora de combustível Petrosol, com filial em Itaquacetuba.

Eles também compraram oito postos de gasolina no estado do Rio – seis na Região Metropolitana, todos interditados ontem pela PF e pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Em três deles a agência constatou a venda de combustível adulterado.