A Polícia Federal (PF) trabalha com duas hipóteses consideradas mais prováveis para a motivação do assassinato da chefe do serviço de perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em Governador Valadares (MG), Maria Cristina Felipe da Silva, de 56 anos. Crime por encomenda e vingança são as principais linhas de investigação da força-tarefa que apura o homicídio, formada pela PF e pela Polícia Civil. O chefe da PF na cidade, delegado Rui Antônio da Silva, disse nesta quinta-feira (14) que "tudo indica" que o crime esteja relacionado com a atividade profissional da vítima. O corpo de Maria Cristina foi enterrado no final da manhã, na cidade da região leste de Minas Gerais.
A polícia já havia identificado um suspeito da execução do crime mas até o final da tarde desta quinta-feira ninguém tinha sido preso. A médica foi morta após ser atingida por tiros na porta de casa, no bairro Ilha dos Araújos, quando manobrava o carro. O suspeito segundo testemunhas, fugiu numa bicicleta. Na fuga, o autor dos tiros deixou cair uma sacola plástica com uma camisa e um copo descartável. "Existe um suspeito da execução, porque está claro que foi uma execução", afirmou o delegado.
Segundo ele, frentes de investigação também buscam identificar possível envolvimento de outras pessoas no crime. A hipótese de crime de mando, conforme Rui Antônio, está relacionada à existência de uma "organização ou alguém que estaria praticando ilícitos previdenciários".
"Quadrilha"
O presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP), Eduardo Henrique Almeida, acredita que a colega tenha sido vítima de "uma quadrilha". Segundo ele, um médico perito da cidade chegou a lhe confidenciar que foi recentemente abordado por um "agenciador" para que "fizesse parte de um esquema". "Se eles chegaram ao extremo de executar a doutora Maria Cristina é porque é uma quadrilha de interesses muito fortes, presume-se. Eu acredito que haja alguma coisa", disse Almeida, que viajou para Governador Valadares e acompanhou o sepultamento de Maria Cristina.
Ele observou que a médica – delegada regional da ANMP, bastante atuante – estava ocupada recentemente com a revisão de benefícios mantidos por prazos longos. "E convocando pessoas para serem reexaminadas". Como delegada da associação, destaca Almeida, Maria Cristina acompanhava também todos os casos de ameaças a médicos peritos da cidade e região. "Ela sempre se envolveu muito, sempre foi uma idealista da causa previdenciária.
O marido da vítima, o também médico José Luiz Felipe da Silva, subdelegado do Ministério do Trabalho na cidade, concedeu entrevista nesta quinta-feira afirmando que desconhecia qualquer tipo de ameaça dirigida à mulher. Ele foi o primeiro a socorrer Maria Cristina. Um dos filhos da médica chegou a afirmar à imprensa local que a mãe tinha "encontrado um monte de coisa errada" e, com o apoio do movimento dos peritos, pretendia iniciar um processo de "limpeza", de combate a fraudes e corrupção.
Protesto
Antes do enterro, peritos e servidores do INSS fizeram um protesto em frente à agência do instituto na cidade. Em sinal de luto, uma faixa foi estendida no prédio. O grupo, de cerca de 60 pessoas, seguiu em passeata por cerca de um quilômetro até o local do velório. O sepultamento, no cemitério Santo Antônio, foi acompanhado por centenas de pessoas.
O presidente da ANMP sustentou que a paralisação de advertência – prevista para durar dois dias e se encerrar nesta quinta-feira – fosse estendida por tempo indeterminado. "Não existe clima para retorno ao trabalho na sexta-feira, como era a programação original", disse. "A gente vai manter uma equipe mínima para os casos socialmente mais graves. Vamos aguardar que o governo mude de postura".