Belo Horizonte (AE) – A Polícia Federal (PF) intensificou as investigações sobre eventuais conexões entre o doleiro Haroldo Bicalho e Silva e o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Um dos alvos da apuração é a empresa RS Empreendimentos e Participações, que têm como sócio majoritário a Rural Seguradora, presidida por Kátia Rabello, que também é presidente do Banco Rural. Silva foi preso, provisoriamente, em agosto, durante a Operação Farol da Colina, da PF, deflagrada com o objetivo de combater crimes financeiros, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Silva foi citado pela ex-secretária da agência de publicidade SMP&B Fernanda Karina Somaggio como um doleiro de Belo Horizonte com o qual Valério manteve contato. O policial civil David Rodrigues Alves, cujo nome aparece na lista de sacadores das contas do Rural tendo resgatado R$ 4,9 milhões das contas da agência de publicidade, disse, recentemente, que foi apresentado ao sócio da SMP&B Cristiano de Mello Paz pelo doleiro. Alves afirmou que foi contratado para transportar os valores em dinheiro para a empresa.
De acordo com certidão da Junta Comercial de Minas Gerais, Silva foi admitido como sócio quotista da RS em junho de 2001 e deixou a sociedade em 28 de dezembro de 2004. Além da Rural Seguradora (51%), os outros sócios da empresa são a Seculus da Amazônia S.A. Jóias e Relógios (39,2%) e a BTS Participações e Empreendimentos (9,8%).
O capital social declarado da empresa é de R$ 8,1 milhões e, como sede oficial, consta um endereço na região central de Alfredo Vasconcelos, a 160 quilômetros da capital mineira. De acordo com a certidão, a RS presta serviços na área de informática, além de assessoria comercial administrativa e financeira a pessoas físicas ou jurídicas nacionais e/ou estrangeiras.
Processo – Conforme o documento, o administrador nomeado da RS é José Roberto Salgado, vice-presidente do Rural, que responde a um processo por gestão fraudulenta e formação de quadrilha. No dia 13, o juiz da 4.ª Vara Federal de Belo Horizonte, Jorge Gustavo de Macedo Costa, acatou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e instaurou uma ação penal contra Salgado e outros quatro executivos do banco, além de um ex-diretor da instituição financeira.
De acordo com a acusação formal do MPF, no período de abril de 1996 e janeiro de 2000, o Rural enviou um total de US$ 4,8 bilhões para o exterior por meio de contas CC-5 – deste montante, pelo menos US$ 192 milhões foram enviados por meio de "laranjas". Estes recursos teriam origem ilícita, conforme análise pericial feita pela PF.
"Estamos apurando se pode existir uma possível ligação entre o Haroldo e o Marcos Valério", disse hoje o delegado Ricardo Amaro, da Superintendência da PF em Minas Gerais.
O doleiro cumpriu prisão temporária sob a acusação de remessa ilegal de divisa ao exterior e sonegação fiscal. Segundo a PF, a casa de câmbio de Silva não tinha autorização do Banco Central (BC) para funcionar.
Banestado – A Farol da Colina foi realizada a partir do desdobramento das averiguações do caso Banestado. O nome deve-se à tradução livre de Beacon Hill, a empresa que seria uma das maiores beneficiárias de contas abertas na agência da instituição em Nova York.
O doleiro não foi encontrado hoje. Silva mora na capital mineira e estaria passando férias num condomínio fechado no interior Estado.
A RS informou, por meio da assessoria, que Kátia não tem participação na empresa e que a gestão está a cargo de outros sócios. Segundo a empresa, Salgado assumiu a diretoria-administrativa da RS em dezembro, após a morte do ex-vice-presidente do Rural José Augusto Dumont. De acordo com a RS, o doleiro foi "sócio capitalista minoritário" da empresa, "sem nenhuma gestão no negócio". A assessoria informou ainda que a RS atua na compra e venda de ativos financeiros.
A SMP&B informou, anteriormente, que Paz nunca esteve com Alves, mas conhece Silva, com quem costumava participar de competições de motos. No depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, Valério negou ter relacionamento com doleiros.