Polícia Federal aponta ligação de Delúbio com fraudadores

Telefonemas gravados pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, negociou o fim da disputa entre as oito facções que pilhavam o Ministério da Saúde com fraudes em licitações para a compra de hemoderivados, remédios e equipamentos hospitalares. A reunião para pôr fim à briga das quadrilhas – que formavam o que ficou conhecido como a máfia dos vampiros – foi em 4 de fevereiro de 2004.

Num dos diálogos gravados, Laerte Arruda Correia e Eduardo Salgueiro falam da reunião que os líderes da facção teriam com Delúbio logo após jantar do então tesoureiro do PT com o presidente Lula. ‘A realidade é essa: tem oito facções brigando, se digladiando. Então o que precisa é pôr uma regra, quem é que é, como deixa de ser’, diz Laerte. Depois da conversa, ele foi encontrar-se com Delúbio no Hotel Blue Tree Park, em Brasília, conforme evidências levantadas pela PF.

Em outro telefonema, interceptado em 11 de fevereiro, Laerte diz a Eduardo: ‘Eu falei que o meu chefe falou, né? É pra alinhar, acertar a viola, não falei?’ No mesmo dia, em outra conversa, Laerte deixa claro que Delúbio está envolvido. Conta a Eduardo que disse ao coordenador de Recursos Logísticos da pasta da Saúde, Luiz Cláudio Gomes da Silva: ‘Você pode falar que está falando em nome do Delúbio’. Segundo a PF, Gomes era o operador da facção que arrecadava dinheiro para o então ministro da Saúde Humberto Costa, hoje candidato do PT ao governo de Pernambuco.

O relatório da PF entregue ao Ministério Público e à Justiça mostra que o esquema dos vampiros começou no governo Fernando Collor e prosseguiu no de Fernando Henrique, mas na gestão de Lula operadores do PT assumiram seu comando. A investigação apontou que a quadrilha petista dentro do esquema tinha duas facções formadas para captar dinheiro junto ao cartel de fornecedores do Ministério da Saúde.

Uma ligada a Humberto Costa e outra a Delúbio Soares.

Cartel – Com mais de 300 páginas, o relatório avalia que o esquema desviou cerca de R$ 2 bilhões da Saúde. De um lado, as empresas fornecedoras do ministério se organizaram em cartel, uma espécie de clube fechado, para partilha das licitações, combinação de preços e definição de demandas. ‘Havia uma associação de representantes das empresas licitantes com lobistas e funcionários corruptos para frustrar o caráter competitivo das compras’, constata a PF.

Costa e Delúbio foram indiciados no inquérito da Operação Vampiros por corrupção, tráfico de influência, formação de quadrilha, fraude em licitação. Os dois negam a acusação. O procurador da República Gustavo Pessanha decidirá até 15 de setembro se oferece denúncia contra eles e mais 40 indiciados.

Delúbio vai aguardar o parecer do Ministério Público para se pronunciar sobre o seu indiciamento no inquérito. Procurados ontem, ele e seu advogado, Celso Vilardi não foram localizados. Uma funcionária do escritório de Vilardi informou que o advogado já recebeu cópia dos autos e está analisando a acusação para preparar a defesa.

Costa, inconformado com o indiciamento, tem usado o horário eleitoral em Pernambuco para se defender. Ele se diz vítima de armação política e estranha que, embora a máfia do sangue existisse desde o governo Collor, nenhum outro ex-ministro tenha sido indiciado.

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