O Primeiro Comando da Capital (PCC) promete ações "em proporções ainda não vistas" caso a Justiça não tome providências contra supostos maus tratos a presos no sistema prisional. "Daremos nossas vidas se necessário. A menos que seja dado um basta nessa situação, levaremos até as últimas conseqüências essa guerra por justiça. Violência gera violência e covardia gera covardia." A disposição de atacar e morrer está expressa em um panfleto distribuído ontem em diversas regiões de São Paulo. A propaganda feita pela facção criminosa foi detectada pela Inteligência da polícia. O texto começa dizendo que "o governo do Estado tem usado os veículos de comunicação para induzir a Justiça e a população a um pensamento equivocado do verdadeiro motivo que nos levou às ações armadas".
O documento diz que parentes e advogados dos presos estão sendo tratados como detentos nas penitenciárias de Presidente Venceslau e de Presidente Bernardes. Reclamam ainda da atuação dos homens do grupo de Intervenção Rápida (GIR), espécie de tropa de choque da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).
Teme-se que a distribuição do documento do PCC seja o prenúncio de novos ataques para 31 de agosto (data da fundação da facção) ou 7 de setembro. Não se sabe ainda que tipo de ataque seria esse "em proporções ainda não vistas", mas a polícia suspeita de novos seqüestros e atentados.
A Coordenadoria dos Presídios da Região Oeste do Estado de São Paulo informou que não responderá às acusações do panfleto por se tratar de "comunicados apócrifos que caracterizam denunciação caluniosa". "Tem de aparecer o responsável pelas denúncias, daí conseguiremos apurar se realmente elas são verdadeiras", disse o coordenador José Reinaldo da Silva. "Enquanto isso não acontece, trata-se de denunciação caluniosa", afirmou.
Bilhete – Na análise da Inteligência da polícia, o panfleto está relacionado à apreensão de um bilhete na cela do seqüestrador Paulo César Souza Nascimento Junior, o Paulinho Neblina, preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. O bilhete foi apreendido na cela 133 do raio 1 da prisão, às 17h30 de domingo, e deixou a cúpula do governo em alerta.
O manuscrito de cerca de dez linhas estava sobre a cama de Paulinho Neblina. Ele trata de um plano que provocaria mais impacto do que o seqüestro de funcionários da TV Globo, no dia 12. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que o bilhete já é objeto de investigação. A mensagem é assinada por Paulinho Neblina. Condenado a 89 anos de prisão, ele é um dos mais perigosos integrantes do PCC. O Departamento de Inteligência da secretaria tenta identificar o destinatário da carta, descrito no texto só como ‘Negão’.
No bilhete, Paulinho escreve: "Negão, se possível chamar na caneta aquela situação que você fez." Depois, menciona o seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado. "Tem que ser feito daquela forma mesmo. É mais um bonde para ser puxado, mas é maior do que o que foi feito na Globo." O bilhete mostra que o PCC está evitando passar ordens por celular para escapar da vigilância policial.