O Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil do Paraná, com apoio do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), prendeu nesta quarta-feira (16) dois funcionários da Junta Comercial do Paraná, quatro ex-sócios de uma casa de bingo em Curitiba e um contador. Pela denúncia, os empresários pagaram propina de R$ 10 mil para os servidores aceitarem documentos adulterados e realizarem alteração contratual para o bingo Village Batel. Com esse documento, o bingo conseguiu liminar favorável no Tribunal Regional Federal da 4ª. Região (TRF-4), em Porto Alegre, que garantiu o funcionamento por alguns dias em 2004.
"O documento foi encaminhado de forma criminosa", afirmou o coordenador do Nurce, delegado Sérgio Sirino. "Se tramitasse de forma regular, não seria aprovado na Junta Comercial, porque existia uma lei que não permitia o bingo no Paraná." Naquela época, qualquer pedido que chegasse à Junta, órgão da Secretaria de Estado da Indústria e Comércio, relacionado com bingo deveria ser encaminhado imediatamente à Procuradoria Geral do Estado (PGE). Dois dias antes dessa aprovação, um pedido com o mesmo teor tinha sido feito e estava na PGE. De acordo com o delegado, em razão disso, os empresários entraram com o novo pedido, cujo processo não foi enviado à Procuradoria e acabou aprovado em menos de três horas, quando a média é de três dias.
"Os empresários conseguiram alterar o endereço para terem ligação com o bingo Monte Carlo, que já tinha alterado sua sede central para São Paulo, e assim conseguiram uma liminar de lá", disse Cirino. "A alteração do Village facilitou para que conseguisse a liminar do TRF-4 e pudesse abrir no Paraná." O segundo pedido foi assinado, segundo a polícia, por um "laranja" acusado de falsidade ideológica. O delegado disse que em 2004 foi aberta sindicância interna na Junta Comercial sobre o fluxo de documento neste caso. O Nurce entrou na investigação e, de acordo com o delegado, no fim da semana passada uma das testemunhas comprovou o pagamento de propina. "Esperamos que com estas prisões temporárias estas pessoas agora esclareçam quem realmente esteve envolvido e como foi o trâmite dos papéis", acentuou Cirino.
A Justiça também concedeu a quebra de sigilo fiscal, bancário e de informática dos acusados. Os servidores foram acusados por tráfico de influência, enquanto os empresários responderão por corrupção ativa, falsidade ideológica e tráfico de influência. Todos serão indiciados por formação de quadrilha. Apenas advogados dos empresários estavam ontem na delegacia, mas não quiseram se pronunciar, alegando que ainda não tinham informações concretas sobre o caso e nem seus clientes tinham sido ouvidos.