Pode entrar mosca

Ditado popular diz que em boca fechada não entra mosca. Da China nos vem a imagem do sábio que era considerado sábio porque nada dizia. Seu silêncio parecia esconder enorme sabedoria, tão grande que não poderia ser traduzida em palavras. Ou camuflar uma enorme burrice.

No Brasil de hoje, e não foi diferente no de ontem e no de antanho, nos meios políticos sempre sobraram falastrões e se multiplicaram discursos inúteis. Ou melhor, inúteis para o povo, mas condutores em seus respingotos de descarada demagogia. O político que fala aos borbotões, não raro aos berros, entusiasmando platéias menos avisadas, parece impregnado de indignação, quando de fato está fazendo teatro para captar os aplausos fáceis dos inocentes.

Na Assembléia Legislativa do Paraná atuou, décadas atrás, um deputado do Norte do Estado que ficava apoplético quando discursava. No Palácio Rio Branco (hoje Câmara de Vereadores de Curitiba), atrás da bancada da oposição, ficava uma porta que dava para a acanhada biblioteca. O parlamentar berrava e gesticulava tanto em seus discursos, que ficava todo molhado de suor. De vez em quando, pedia licença ao presidente, saía da tribuna e entrava na biblioteca, voltando com uma nova camisa, sequinha. Era o ?Leão do Norte?. Esse apelido valeu-lhe muitas gozações e até mesmo uma piada que ele dirigiu a si mesmo. Num desses ruidosos e escancarados discursos, viu que estava passando em muito das medidas e, dirigindo o dedo indicador para o próprio peito, gritou: ?Sossega, leão!?.

Nada parecido estiveram fazendo o presidente Lula e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Mas um e outro perderam boas oportunidades de calar-se, pois se falando em ter mandado silenciar denúncia de corrupção no governo FHC Lula não cometeu nenhum crime, como já decidiu um ministro do STF, houve um deslize político que poderia lhe ter valido muitos dissabores. Calado, teria sido mais sábio.

O mesmo se deve dizer de Severino Cavalcanti, novo presidente da Câmara. Ele chegou àquela elevada função em razão de tropeços dos governistas e equívocos dos situacionistas. O homem é daqueles políticos que a gente pensava estarem caindo de moda. Não é conservador, é reacionário. É contra praticamente tudo o que, na construção da nossa democracia, é considerado avanço ou merece sérias discussões. Não quer nem ouvir falar em transgênicos, células-tronco, independência para o Banco Central. Quis, sim, um belo e polpudo aumento de vencimentos para os deputados, inclusive ele próprio, causando indignação em toda a nação. Foi forçado a um recuo.

Agora, em sua intemperança verbal, fala em protecionismo que costuma fazer para com seus conterrâneos e correligionários. E deixa dúvidas se esse protecionismo não arranha a lei e os bons costumes políticos.

Melhor que também ficasse calado.

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