Programas como o Bolsa Família, iniciado no governo FHC e ampliado e enfatizado na administração Lula, tem logrado reduzir a pobreza no Brasil. Essa redução, entretanto, é ínfima considerando-se o vasto panorama de miséria em que larga parcela da população do País vive. O governo federal percebeu que o Bolsa Família não tem resultados relevantes no combate à pobreza nas regiões metropolitanas, nas grandes cidades e seus entornos. O volume de dinheiro repassado é grande, mas o impacto é menor do que o verificado nos municípios pequenos e médios e os de baixo desenvolvimento econômico do Norte e Nordeste.
Os especialistas desdobram-se para oferecer explicações e interpretações do fenômeno, mas quer nos parecer que a principal é que nos municípios menores a redução da pobreza é mais visível porque eles não têm fontes de renda outras de expressão, como agricultura, indústria e comércio. Não são poucos os municípios que vivem das aposentadorias e pensões pagas pela Previdência e dos auxílios recebidos do poder público. O Bolsa Família passa a ser, nesse quadro de pobreza, um fator importante de sustentação das economias locais. E, muito embora ofereça estatísticas positivas, revela que sem assistencialismo esses municípios são inviáveis. E inviáveis inclusive para o poder público, as prefeituras e o pequeno comércio que em seus territórios funcionam. Sem esse assistencialismo não existiria recolhimento de impostos e movimento nos estabelecimentos comerciais.
?Os repasses acabam se diluindo porque o custo de vida também é maior (e não só o número de habitantes)?, diz Rosani Cunha, secretária de Renda da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, a respeito dos resultados menores obtidos no combate à pobreza nas regiões metropolitanas. Estas receberam em 2005 R$ 1,3 bilhão dos R$ 6,5 bilhões pagos pelo Bolsa Família. São Paulo e cidades de seu entorno ficaram com R$ 238 milhões. Há de se considerar que nas grandes cidades o custo de vida é mais alto e as distâncias maiores. Para nelas viver, é preciso gastar mais com aluguéis, mesmo que sejam barracos de favelas e o transporte pesa nos parcos orçamentos da clientela assistida.
A secretária responsável pelo Bolsa Família, Rosani Cunha, informa que o governo estuda outras estratégias de combate à pobreza em São Paulo e demais regiões metropolitanas, pois o aumento do pagamento poderia estimular a migração de pobres para as metrópoles. O ministério defende, entre outras medidas, a redução da conta de luz para as populações pobres, com a adoção de tarifas sociais, o que já existe em algumas unidades da federação, como o Paraná. Também seriam intensificados programas de aumento da escolaridade, capacitação profissional e geração de renda da população cadastrada no Bolsa Família nas regiões metropolitanas.
A redução do número de pobres em cidades como Rio e São Paulo foi importante, porém insuficiente. Mas as políticas agora cogitadas de não aumentar os auxílios em dinheiro, mas oferecer tarifas sociais, educação e preparação para o trabalho são as mais acertadas. A pobreza não se traduz só na falta de dinheiro. Ela é também a falta de condições de sair da dependência das esmolas, assistencialismo e outras práticas paliativas.
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