Na entrada de um ano novo, todos pensam em festejar. Alguns até conseguem. Esquece-se de que uma virada no calendário pode não significar início de melhores dias e término de velhas vicissitudes. De qualquer forma, o evento é comemorável, considerando-se que, no tempo e muitas vezes no prazo de um ano, fazemos nossos planos, procuramos executar nossos projetos e até dividimos em prestações nossas dívidas que, por vezes, terminam saldadas, embora outras já tenham surgido ou venham a surgir. O ano novo repete, quando não prossegue a mesma gama de preocupações e problemas. E, muito embora se tenha o desejo de fazê-lo melhor que o findo, nada garante que não seja igual ou pior.
No Brasil, em certos aspectos, os avanços e crescimento vegetativo fizeram com que os anos novos fossem melhores que os velhos. Ou que, a cada ano, tenha se verificado algum progresso.
Mas houve também o processo inverso, e em pontos tão importantes, que é preciso não festejar, mas se conscientizar e trabalhar para reverter situações. De 1995 a 2004, período que inclui o governo FHC e o de Lula, a população extremamente pobre do Brasil sofreu aumento no processo de exclusão do mercado de trabalho. O rendimento médio dos trabalhadores que se encontram na faixa dos 10% mais pobres caiu 39,6%. Um percentual assustador e que, por seu tamanho, revela que estamos a cada ano novo aumentando a miséria dos brasileiros já pobres. Pobres cada vez mais pobres.
No ano de 1995, 89% da renda dessa população vinha do trabalho. Em 2004, essa percentagem reduziu-se para 48%. Verificou-se, no período em estudo, que a população mais pobre distanciou-se dos ricos e passou a depender ainda mais do governo. De outro lado, os 10% mais ricos também tiveram queda de renda do trabalho. Só que menor, pois caiu de 83% para 77%. O estudo feito sobre o assunto demonstra que a economia brasileira não parou de produzir desigualdades e aumentou a distância entre os mais ricos e os mais pobres.
Se de um lado festejamos a redemocratização do País e a consolidação do regime democrático, embora ainda falte muito para solidificar-se, de outro verifica-se que não vivemos numa democracia econômica e social. E a democracia política, que já foi conquistada, tem sido freqüentemente conspurcada pelos abusos de partidos, políticos e grupos. Estultices que se traduzem por crimes graves que vão da fraude aos desvios de recursos, peculatos e furtos de dinheiro do povo.
Esses dados e mais outros que os confirmam constam de estudo do sociólogo Álvaro Comin, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE.
Nas disputas políticas do período e mesmo anteriores, sempre os grupos ideológicos de esquerda acusaram os de centro ou de direita, que ocupavam o poder, de manterem a população na pobreza, ignorância e dependência do governo, para poder dominá-la e extorquir-lhe votos, que eternizavam a burguesia nefasta no comando da nação.
O estudo referido desmente essa assertiva, pois abrange tanto o governo neoliberal de centro, de Fernando Henrique Cardoso, como o de ?esquerda? de Lula. E nada mudou. Pelo contrário, o que era ruim parece que ficou pior. E nada indica que alguma mudança redentora vá acontecer neste festejado ano de 2006.
