Francisco Simeão

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Muitos falam e escrevem contra as importações de pneus remoldados, como se estes fossem diferentes de pneus novos, sem levar em conta que duram o mesmo e são tão seguros quanto. Ao mesmo tempo, tratam usados e remoldados como se fossem iguais, e não matéria-prima e novo produto, respectivamente.

Preconceito é assim: a pessoa é contra, mesmo não sabendo do que se trata. E atinge até especialistas em legislação antidumping. Na Guerra dos Pneus, parte da sociedade brasileira ainda se deixa levar por autointitulados ambientalistas que mantêm o preconceito contra os pneus usados importados. De má-fé, é sonegado à opinião pública o fato de que, ao usá-los como matéria-prima, os remoldados promovem a economia de 20 litros de petróleo que seriam necessários à fabricação de um pneu novo e de 40 litros no caso dos pneus de caminhonete.

Considerando ainda que para importar quatro pneus é obrigatório, previamente ao embarque no exterior, destinar de forma ambientalmente adequada cinco pneus inservíveis coletados no meio ambiente brasileiro, como podem essas importações serem nocivas ao País?

Os assim chamados ambientalistas contrários aos remoldados jamais reconhecem a verdadeira causa da Guerra dos Pneus: a disputa comercial pelo mercado consumidor brasileiro. As portentosas multinacionais fabricantes de pneus no Brasil – Goodyear, Bridgestone / Firestone, Michelin e Pirelli – não querem ceder à emergente indústria brasileira de remoldados o mercado em que até 15 anos atrás auferiam, com preços cartelizados, os maiores lucros do Planeta, nesse setor, ao mesmo tempo em que vendiam aqui pneus inferiores em qualidade aos que exportavam aos seus países de origem.

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O fato é que a Guerra dos Pneus, além de beneficiar o consumidor brasileiro, deu ao País a posição de liderança e pioneirismo mundial na solução do problema do ?lixo-pneu? que preocupa muito a Europa e a América do Norte, naturalmente, já que lá o volume de pneus é gigantesco. E essa solução foi iniciativa do setor de pneus remoldados, ao estabelecer na Resolução Conama 258/99 a chamada contrapartida ambiental, de coletar e destinar cinco pneus para cada quatro colocados no mercado nacional. E isso, para todo tipo de pneu: usado, novo, remoldado, importado ou fabricado no Brasil.

A falácia de que ?o Brasil será transformado em lixeira do mundo? se desmoronou com a ação da Anip, a associação que congrega as multinacionais dos pneus, na Justiça Federal, requerendo (e conquistando) imunidade contra os ditames da Resolução 258/99, sob a alegação a de que não existem pneus velhos a serem coletados no Brasil. Só a empresa que presido recolheu mais de 12 milhões de pneus inservíveis, e continua a fazê-lo sem cessar no Paraná, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais.

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Que os representantes das multinacionais mentem, não há a menor dúvida. Resta apenas que, diretamente ou por seus escritórios de advogados, esclareçam aos leitores se mentem quando alegam ser contra as importações de pneus usados em razão das ?montanhas de pneus acumuladas no território brasileiro?, ou se o fazem quando afirmam não cumprir sua obrigação ambiental de coletá-los ?porque eles não existem?.

Afinal, não é possível afirmar duas coisas diametralmente opostas e pretender que ambas sejam aceitas como verdade.

Francisco Simeão é presidente da Abip – Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados e da BS Colway Pneus.